quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


2010


Desejamos que seja um ano onde cada um de nós lute contra o orgulho e o egoísmo (dentro de si mesmo) para termos um mundo melhor.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O NATAL DIFERENTE


Muito raro observar-se temperamento tão apaixonado, quanto o de Emiliano Jardim. No fundo, criatura generosa e sincera, mas as noções materialistas estragavam-lhe os pensamentos. Debalde cooperavam os amigos em renovar-lhe as idéias. O rapaz reportava-se a umas tantas teorias de negação, e a moléstia espiritual prosseguia do mesmo jeito. O casamento, realizado entre pompas familiares, em nada melhorara a situação; quando, porém, Emiliano experimentou a primeira dor da paternidade, ao ver o filho arrebatado pela morte, esse golpe profundo lhe abalou o espírito personalista.

Justamente por essa época, generoso padre meteu-lhe nas mãos um livro de consolação religiosa, à guisa de socorro.

Em semelhante fase do caminho, o contacto com os ensinamentos de Jesus lhe encheram a alma de serena doçura. Estava deslumbrado. Como não compreendera antes a beleza da fé? Fez-se católico, sob aplausos gerais. Os afeiçoados se entreolhavam satisfeitos.

Emiliano, contudo, embora seduzido pelas verdades luminosas do Mestre, trazia a sua lição através da vida, como lhe acontecera ao tempo dos antigos postulados negativistas. Acreditando servir ao ideal divino do Evangelho, terçava armas cruéis contra todos os que entendiam Jesus por prismas diferentes. Acusava os portestandes, malsinava os espíritas.

Os anos, porém, correram na sabedoria silenciosa do tempo.

Ralado pelas desilusões de todo homem que procura a felicidade longe da redenção de si mesmo, o nosso amigo, certo dia, passou-se de armas e bagagens para o Protestantismo. Entretanto, por mais que se esforçassem os companheiros, Emiliano não conseguia realizar a visão interna do Cristo, como Divino Amigo de cada instante, através de seus imerecíveis ensinamentos.

Tornou-se anti clerical violento e rude. Esquecera todos os bens que a Igreja Católica lhe proporcionara, para recordar apenas suas deficiências, visíveis na imperfeição da criatura. Alguns amigos mentos vigilantes o felicitavam pelo desassombro; todavia, os mais experimentados reconheciam que o novo crente mudara a expressão religiosa exterior, mas não entregara o coração ao Cristo.

Depois de longa luta, Emiliano sente-se insatisfeito e ingressa nos arraiais espiritistas.

Emiliano, qual sucede à maioria dos crentes, admite a verdade, mas não dispensa os benefícios imediatos; dedica-se a Jesus, anseia por vê-lo nos outros homens, antes de senti-lo em si próprio. Sua atividade geral transtorna-se. Enfrenta de armas na mão todos os companheiros antigos. Supõe que deve lavar a defesa da nova doutrina ao extremo. A bondade dos guias espirituais, que se comunicam nas reuniões, ele a toma por elogio às suas atitudes.

Como, porém, a justiça esclarecida é sempre um credor generoso, que somente reclama pagamento depois de observar o devedor em condições de resgatar os antigos débitos, Emiliano, na posse de numerosos conhecimentos e bafejado de tantas exortações divinas, penetrou no caminho do resgate das velhas dívidas. Tempos difíceis surgiram-lhe no horizonte individual. Enquanto se esforçava para remover alguns obstáculos, outras montanhas de dificuldades apareciam, inesperadamente. A moléstia, a escassez de recursos e a ironia dos ingratos visitaram-lhe a casa honesta. A princípio resignado e forte, acabou desesperando-se. Dizia-se abandonado pelos amigos espirituais e acusava os médiuns, cheios de obrigações sagradas, tão só porque não podiam permanecer em longas concentrações, para solucão dos casos pessoais. Sentia-se perseguido por maus Espíritos, e, na sua inconformação, magoava companheiros respeitáveis.

A dor, todavia, não interrompeu sua função purificadora. Depois de penosa enfermidade, sua velha genitora partiu para a vida espiritual em condições amargas. Não passou muito tempo e a sua esposa, perturbada nas faculdades mentais durante três anos, seguia o mesmo caminho. Em seguida, os dois filhos que criara, com excessos de carinho, se voltaram contra o coração paterno, com injustas acusações. Ao ensejo da calúnia, os últimos companheiros fugiram. O nosso amigo, outrora tão discutidor e tão violento, experimentou desânimo invencível. Nunca mais foi visto em rodas doutrinárias, nas tertúlias da inteligência; comumente era encontrado, como vagabundo vulgar, escondendo lágrimas furtivas.

Numa radiosa véspera de Natal, em que o ambiente festivo lhe falava da ventura destruída ao coração, Emiliano chorou mais que de costume e resolveu pôr termo à existência.

À noite, encaminhou-se para a praia, alimentando o sinistro desígnio. Antes, porém, de consumar o erro extremo, pensou naquele Jesus que restituíra a vista aos cegos, que curara os leprosos, que amara os pobres e os desvalidos. Tais lembranças lhe nevoaram os olhos de pranto doloroso, modificando-lhe as disposições mais íntimas.

Foi aí, nessa hora amargurada em que o mísero se dispunha a agravar as próprias angústias, que uma voz suave se fez ouvir no recôndito de seu espírito.

- Emiliano, há quanto tempo eu buscava encontrar-te; mas sempre me chamavas através dos outros, sem jamais procurar-me em ti mesmo! Dá-me a tua dor, reclina a cabeça cansada sobre o meu coração!... Muitas vezes, o meu poder opera na fraqueza humana. Raramente meus disípulos gozam o encontro divino, fora das câmaras do sofrimento. Quase sempre é necessário que percam tudo, a fim de me acharem em si mesmos.Tenho um santuário em cada coração da Terra; mas o homem enche esse templo divino de detritos, ou levanta muralhas de incompreensão entre o seu trabalho e a minha influência... Nessas circunstâncias, em vão me procuram...

Emiliano estava inebriado. Não ouvia propriamente uma voz idêntica à do mundo, mas experimentava o coração tomado por poderosa vibração , sentindo que as palavras lhe chegavam ao íntimo como aragem celestial.

- Volta ao esforço diário e não esqueças que estarei com os meus discípulos sinceros até o fim dos séculos! Acaso poderias admitir que permaneço em beatitude inerte, quando meus amigos se dilaceram pela vitória de minha causa? Não posso estacionar em vâs disputas, nem nas estéreis lamentações, porque necessitamos cuidar do amoroso esclarecimento das almas. É por isso que estou, mais frequentemente, onde estejam os corações quebrantados e os que já tenham compreendido a grandeza do espírito de serviço. Não te rebeles contra o sofrimento que purifica, aprende a deixas os bonecos a quantos ainda não puderam atravessar as fronteiras da infância. Não analises teu irmão, tambem eu sou criticado. Ainda não terminei minha obra derreste, Emiliano! Ajuda-me, compreendendo a grandeza do seu objetivo e etendendo a fragilidade dos teus irmãos. Dá o bem pelo mal, perdoa sempre! Volta ao teu esforço! Em qualquer posto de trabalho honesto poderás ouvir minha voz, desde que me procures no coração!...

Emiliano Jardim sentiu que as lágrimas agora eram de júbilo e reconhecimento.

Em breves instantes, experimentava radical transformação.

À sua frente via a imensidão do céu e a imensidade do oceano, sentindo-se como num mundo em que o Cristo houvera nascido. Recordou que não tinha senão escórias de misérias para ofertar a Jesus, e que seus sentimentos rudes simbolizavam aqueles animais que foram as primeiras visitas da manjedoura singela.

Deslumbrado, endereçou um pensamento de paz a todos os companheiros do pretérito e começou a compreender que cada um permanecia em sua posição de trabalho, na tarefa que o Senhor lhe designara. Poderosa vibração de amor ligava-o à Criação inteira. Não se torturava em racocínios. Compreendia e chorava de júbilo. Levantou-se, enxugou as lágrimas e retomou o caminho da cidade barulhenta.

O nosso amigo conhecia de longos anos o Salvador só agora encontrara o Mestre. Emiliano Jardim regressou, renovado, ao labor do Evangelho, depois do Natal diferente.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

OS ESPÍRITOS DA TERRA


Está cheio o vosso mundo de espíritos atrasados em sua evolução, encarnados e desencarnados, em cujas mentes ainda não se fixaram nitidamente as noções do dever em todos os seus prismas.

Admirai-vos, às vezes, os que vos acolheis sob a bandeira da paz da consoladora Doutrina dos Espíritos, da incompreensão que lavra no mundo e da teimosia de muitas consciências rebeldes à luz e refratárias à Verdade; a Terra está cheia de dores, oriundas dos abusos levados a efeito por elevado número dos seus habitantes que, aliás, constituem consideravel maioria.

Vós, porém, que estudais e vos sentis possuidos da aspiração de melhorar, procurai ponderar todas as questões que se vos apresentem, com acurada atenção, procurando resolver todos os problemas à luz de esclarecido entendimento.


ESPÍRITOS DA TERRA


A Terra está povoada, em quase todas as latitudes, de seres que se desenvolveram com ela própria e que se afinam perfeitamente às suas condições fluídicas.

Pequena percentagem de homens é constituida de elementos espirituais de outros orbes mais elevados que o vosso; daí, a enorme diferença de avanço moral entre os seres humanos e os abnegados apóstolos da luz que, em todos os tempos, tendem clarear-lhes as estradas do progresso. É comum conhecerem-se pessoas que nutrem perfeita adoração a todos os prazeres que o mundo lhes oferece. Por minuto de voluptuosidade, pela contemplação dos seus haveres efêmeros, por uma hora de contacto com as suas ilusões, jamais procurariam o conhecimento das verdades da eterna vida do espírito; procuram toda casta de gozos, evitam qualquer estudo ou meditação e se entregam, frenéticamente, ao bem-estar que a carne lhes oferta. Essas criaturas, invariavelmente, são espíritos estritamente terrenos, que não saem dos âmbitos da existência mesquinha do planeta; essa afirmação, porém, não implica, de modo geral, a origem desses seres em vosso próprio orbe, mas, sim, a verdade de que muitos deles, pelas suas condições psíquicas, merecem viver em sua superfície, como prova, expiação ou meio de progresso. Apegam-se com fervor a tudo quanto seja carnal e experimentam o pavor da morte, inseguros na sua fé e falhos de conhecimentos quanto à sua vida futura.


domingo, 25 de outubro de 2009

MARTE (Recebida em 1939)


Enquanto as empresas de turismo organizam na Terra os grandes cruzeiros intercontinentais, realizando um dos mais belos esforços de socialização do século XX, no mundo dos espíritos organizam-se caravanas de fraternidade, nos planos de intermúndio.

Na região do estômago, o previlégio pertence aos sujeitos felizes, bem fichados nos círculos bancários, mas, nos planos do coração, os livros do cheque são desnecessários

Novo Gullivwer da vida, mergulho a minha observação nos espetáculos assombrosos, experimentando, além das águas de Aqueronte(1), a mudança inegral de todas as perspectivas.

Encarcerado no ponto convencional de sua existência transitória, o homem terreste é aquela coruja incapaz de enfrentar a luz da montanha, em pleno dia, suportando apenas a sombra espessa e triste de sua noite. Como Ájax, filho de Oileu(2), contempla, às vezes, o tridente irado dos deuses, mas, embora a sua desesperação e seu orgulho, não vai além da ilha, onde a maré alta o atirou, nos caprichosos movimentos do oceano da Vida.

A Morte não é uma fonte miraculosa de virtude e de sabedoria. É, porém, uma asa luminosa de liberdade para os que pagaram os pesados tributos de dor e de esperança, nas esteiras do Tempo.

Enquanto os astrônomos europeus e americanos examinam, cuidadosamente, os seus telescópios, para a contemplação da paisagem de Marte, à distância de quase trinta e sete milhões de milhas, preparando as lentes poderosas de seus instrumentos de óptica, fomos felicitados com uma passagem gratuita ao nosso admiravel vizinho do Sistema Solar, cujo percurso, nas adjacências do orbe, vem empolgando igualmente os núcleos de seres invisíveis, localizados nas regiões mais próximas da Terra.

A descrição das viagens, desde o princípio deste século, é uma das modalidades mais interessantes da literatura mundial; todavia, o homem que vá do Rio de Janeiro a Tóquio, de avião, sem escalas de qualquer natureza, não poderá descrever o caminho, com os seus detalhes mais interessantes. Transmitirá aos seus leitores a emoção da imensidade, mas não conseguirá pintar uma nuvem. Fora de suas máquinas aéreas, poderia fornecer a impressão de uma águia, mas o turista do Espaço, para se fazer entendido pelos companheiros da carne teria de recorrer às figuras mais atrevidas do mundo mitológico.

É por isso que apelarei aqui para o véu de Ísis(3) ou para o dorso de Pégaso(4), cuja patada fez brotar a fonte de Hipocrene, no Hélicon das divindades.

Depois de alguns segundos, chegávamos ao termo de nosssa viagem veretiginosa.

Dentro da atmosfera marciana, experimentamos uma extraordinária sensação de leveza... Ao longe, divisei cidades fantásticas pela sua beleza inaudita, cujos edifícios, de algum modo, me recordavam a Torre Eiffel ou os mais ousados aranha-céus de Nova York. Máquinas possantes, como se fôssem sustidas por novos elementos semelhantes ao "Hélium", balouçavam-se, ao pé das nuvens, apresentando um vasto sentido de estabilidade e de harmonia, entre as forças aéreas.

Aos meus olhos, desenhavam-se panoramas que o meu Espírito imaginara apenas para os mundo ideais da mitologia grega, com os seus paraísos cariciosos.

Aturdido, interpelei o chefe da nossa caravana, que se condservava silencioso:

- "Se a Terra julga a influência de Marte como profundamente belicosa, como poderemos conciliar a definição dos astrólogos com os espetáculos que estamos presenciando?"

- "E porventura - respondeu-me o exelente mentor espiritual - chegaste a conhecer no planeta terreste um homem ou uma idéia, que retirasse a humanidade de sua rotina, sem sofrimento e sem guerra? Para o nosso mundo, Marte é um irmão mais velho e mais experimentado na vida. Sua atuação no campo magnético de nossas energias cósmicas visam a auxiliar os homens terrenos para que possam despir os seus envoltórios de separatividade e de egoísmo."

Mas, nesse instante, havíamos chegado a um belo cômoro atepetado de vedura florida.

Ante os meus olhos atônicos, rasgavam-se avenidas extensas e amplas, onde as consturções eram fundamente análogas às da Terra.

Tive então ensejo de contemplar os habitantes do nosso vizinho, cuja organização fisíca difere um tanto do arcabouço típico com que realizamos as nossas experiências terrestes. Notei, igualemente, que os homens de Marte não apresentam as expressões psicológicas de inquietação em que mergulham os nossos irmãos das grandes metrópoles terrenas. Uma aura de profunda tranquilidade os envolve.

É que, esclareceu o mentor que nos acompanhava, os marcianos já solucionaram os problemas do meio e já passaram pelas experimentações da vida animal, em suas fases mais grosseiras. Não conhecem os fenômenos da guerra e qualquer flagelo social seria, entre eles, um acontecimento inacreditável. Evolveram sem as expiações coletivas, amarguaradas e terríveis, com que são atormentados os povos insubmissos da Terra. As pátrias, ali, não recebem o tributo do sangue ou da morte de seus filhos, mas são departamentos econômicos e orgãos educativos, administrados por instituições justas e sábias.

Era tempo, contudo, de observarmos a cidade com as suas disposições interessantes.

O leitor não poderá dispensar o nome dessa cidade prodigiosa, e à falta de termos comparativos, chamemos-lhe Marciópolis.

Orientados pelo amigo que nos dirigia a singular excurção, atingimos extensa praça, onde se erguia um templo maravilhoso pela sua imponência, tocada de majestosa simplicidade, e onde, ao que fomos informados, se haviam runido todos os credos religiosos.

De uma de suas eminências, vimos o nosso Sol, bastante diferenciado, entornando na paisagem as tintas do crepúsculo.

A vegetação de Marte, educada em parques gigantescos, sofria grandes modificações, em comparação com a da tTerra. É de um colorido mais interessante e mais belo, apresentando uma expressão de tonalidade avermelhada em suas características gerais.

Na atmosfera, ao longe, vagavam nuvens imensas, levemente azuladas, que nos reclamaram a aatenção, explicando-nos o mentor da caravana fraterna que se tratava de espessas aglomerações de vapor dágua, criadas por máquinas poderosas da ciência marciana, a fim de que sejam supridas as deficiências do líquido nas regiões mais pobres e mais afastadas do largo sistema de canais, que ali coloca grandes ocianos polares em contínua comunicação, uns com os outros.

Tais providências, explica o Espírito superior e benevolente, destina-se a proteger a vida dos reinos mais fracos da natureza planetária, porque, em Marte, o problema da alimentação essencial, através das forças atmosféricas, já foi resolvido, sendo dispensável aos seus habitantes felizes a ingestão das víceras cadavéricas dos seus irmãos inferiores, como acontece na Terra, superlotada de frigoríficos e de matadouros.

Todavia, ao apagar das luzes diurnas, o grande templo de Marciópolis enchia-se de povo. Observei que a nossa presença espiritual não era percebida, daí podermos examinar a multidão, à vontade, em seus mínimos movimentos.

Todos os grandes centros deste planeta, esclareceu o nosso amigo e mentor espiritual, sentem-se incomodados pelas influências nocivas da Terra, o único orbe de aura infeliz, nas suas vizinhanças mais próximas, e, desde muitos anos, enviam mensagens ao globo terráqueo, através de ondas luminosas, as quais se confundem com os raios cósmicos, cuja presença, no mundo, é registrada pela generalidade dos aparelhos radiofônicos.

Ainda há pouco tempo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia inaugurou um vasto período de experimentações, para averiguar a procedência dessas mensagens, misteriosas para o homem da Terra, antotasdas com mais violência pelos balões estratosféricos, conforme as demonstrações obridas pelo Dr. Robert Millikan, nas suas experiências científicas.

A palestra esclarecedora seguia o seu curso interessante, mas os movimentos na praça acentuavam-se, sobremaneira.

No horizonte, surgia uma grande estrela de luz avermelhada, enquanto os dois satélites marciáticos resplandeciam.
Todos os olhares fitavam o céu, ansiosamente.

Aquela estrela era a Terra.

Uma comissão de cientistas iniciou, da tribuna maior do santuário, uma vasta série de estudos sobre o nosso mundo distante. Aparelhos luminosos foram afixados, na praça pública, ao passo que presenciávamos a exibição de mapas quase irrepreensíveis dos nossos continentes e dos nossos mares. Teorias notáveis com respeito à situação espiritual do planeta terrestre foram expedidas, entendendo-se perfeitamente as idéias dois estudiosos que as expunham, através da linguagem universal do pensamento.

A Terra enviava-nos a sua claridade, em reflexos trêmulos e tristes. Observamos, então, que os marcianos haviam colocado em seu templo poderosos telescópios.

Enquanto os melhores aparelhos da América possuem um diâmetro de duzentas polegadas, com a possibilidade de aumentar a imagem de Marte doze mil vezes, a astronomia marciana pode contemplar e estudar a Terra, aumentando-lhe a imagem mais de cem mil vezes, chegando ao extremo de examinar as vibrações de ordem príquica, na sua atmosfera.

A nossa grande surpresa não parou aí, entre os mais avançados aspectos de evolução e de cultura.

Enquanto a luz avermelhada da Terra tocava a nossa visão espiritual, víamos que todas as multidões do templo se haviam aquietado, de leve... A Ciência unida à Fé apresentava um dos espetáculos mais belos para o nosso espírito.

Vimos, então, que ao influxo poderoso daquelas mentes irmanadas no mesmo nível evolutivo, pela sabedoria e pelo sentimento, formara-se sobre o santuário uma estrada liminosa, em cujos reflexos descera do Alto um mensageiro celeste.

Recebido com as intensas vobrações de júbilo divino e silencioso, a figura, quase angélica, começou a falar, depois de uma prece comovedora:

-"Irmãos, ainda é inútil toda a comunicação com a Terra rebelde e incompreensível! Debalde os astrônomos terrenos vos procuram ansiosos, nos abismos do Infinito!... Seus telescópios estão frios, suas máquinas, geladas. Faltam-lhes os ardores divinos da intuição sublime e pura, com as vibrações da fé que os levariam da ciência transitória à sabedoria imortal. Fatigados na impenitência que lhes caracteriza as atividades inquietas e angustiosas, os homens terrestes precisam de iluminação pelo amor, a fim de que afastem do círculo vicioso da destruição, na tecnocracia da guerra. Lá, os irmãos se devoram uns aos outros, com indiferença monstruosa! Os povos não se afirmam pelo trabalho ou pela cultura, mas pelas mais poderosas máquinas de morticínio e de arrasamento. Todos os progressos científicos são patrimônio do egoísmo utilitário ou elementos sinistros da ruína e da morte! Enquanto as árvores de Deus frondejam no caminho da Vida e do Tempo, cheias de frutos cariciosos, as criaturas terrenas consideram-se famintas de violência e de sangue. A ciência de seres como esses não poderia entender as vibrações mais elevadas do espírito! Os vícios de uma falsa cultura casam-se aos vícios das religiões convencionalistas, que estacionam em exterioridades nocivas ou se detêm nos fenômenos, sem cogitar das causas profundas, esquecendo-se o homem do templo divino do seu coração, onde as bençãos de Deus desejam florir e semear a vida eterna!... Tão singulares desequílibrios provocaram na personalidade terrestre um sentido bestial que lhe corrompe os mais preciosos centros de força e, sómente agora, cogitam as instituiçoes divinas da transição necessária, a fim de que a vida na Terra se efetive, com o sentido da verdadeira humanidade, ali conhecido tão sòmente na exposição teórica de alguns espíritos insulados!... Irmãos, contemplemos a Terra e peçamos ao Senhor do Universo que as modificações, precisas ao seu aperfeiçoamento, sejam menos dolorosas ao coração de suas coletividades! Oremos pelos nossos companheiros, iludidos nas expressões animais de uma vida inferior e em suas consciências, possibilitando as vibrações recíprocas de simpaatia e comunicação, entre os dois mundos!..."

A multidão ouvia-lhe a palavra, atenta e comovida, e nós lhe escutávamos a exortação profunda, como se foramos convocados , de longe, pela harmonia mágica da lira de Orfeu(5), quando o nosso mentor espiritual nos acorda, do êxtase, a nos ater levemente nos ombros, chamando-nos ao regresso.

Em todos os lugares, há os que mandam, e vivem os que obedecem. Na categoria dos últimos, voltamos às esferas espirituais da Terra, como o homem ignorante que fizesse um voo, sem escalas, atraés do mundo, confundido e deslumbrado, embora não lhe seja possível definir o mais leve traço de seu espantoso caminho.



1 - Aqueronte - Nome de um dos quatro rios do Inferno, por onde as almas passavam sem esperança de regressar, e de curso tão impetuoso que arrastava, qual se fôssem grãos de areia, grandes blocas de rochedos.


2 - Ájax - filho de Oileu, rei dos Lócrios(Grécia) - era um príncipe intrépido, mas brutal e cruel.

Equipou quarenta navios para a guerra de Tróia. Tomada esta, ele ultrajou uma profetisa de classe, que se refugiara no templo, motivo por que os deuses fizeram submergir sua esquadra.

Salvo do naufrágio, agarrou-se a um rochedo dizendo, com arrogância: Escapei, apesar da cólera dos deuses!

Irritados com seu desmesurado orgulho, os deuses o aniquilaram, ali mesmo.


3 - Ísis - Uma das principais divindades egípcias. Tendo reinado durante muito tempo, foi depois morta, elevada à categoria de deusa (a canonização dos tempos subsequentes), e em sua honra o culto celebravam-se ritos, chamados - Mistérios de Ísis. Na forma comum, é representada (à imagem das santas) sob a figura de uma jovem mulher, sentada, amamentando um dos filhos, Hórus, tendo sobre a testa duas pontas ou um globo lunar.


4 - Pégaso - Cavalo alado que tem destacados feitos na mitologia grega.Nele iam os poetas em visita ao monte da inspiração. Ainda hoje, em tropo literário se diz que, em busca de imagianção, os poetas cavalgam o Pégaso. Nesse monte, chamado Hélicon, Pégaso, com uma patada, fez surgir a fonte da água inspiradora, denominada Hipocrene, isto é - fonte do cavalo.

5- Orfeu - Músico magico da mitologia. Seus acordes encantavam, e atraíam as próprias feras. Tendo sua esposa Eurídice sido picada e morta por uma sepente, no dia nupcial, ele foi ao Inferno onde obteve, pela sedução de sua lira, que divindades dali lhe ressuscitassem a consorte, com a condição, porém, de não olh ar para trás, antes de deixar os limites do Inferno, cláusula que Orfeu infringiu. Essa lenda serviu de enredo à conhecida ópera de Gluck - Orfeu.

sábado, 10 de outubro de 2009

A ILUSÃO DO DISCÍPULO


Jesus havia chegado a Jerusalém sob uma chuva de flores.


De tarde, após a consagração popular, caminhava Tiago e Judas, lado a lado, por uma estrada antiga, marginada de oliveiras, que conduzia às casinhas alegres de Betânia.


Judas Iscariotes deixava transparecer no semblante íntima inquietação, enquanto no olhar sereno do filho de Zebedeu fulgurava luz suave e branda que consola o coração das almas crentes.


- Tiago - exclamou Judas, entre ansioso e atormentado - não achas que o Mestre é demasiado simples e bom para quebrar o jugo tirânico que pesa sobre Israel, abolindo a escravidão que oprime o povo eleito de Deus?


- Mas - replica o interpelado - poderias admitir no Mestre as disposições destruidoras de um guerreiro do mundo?
- Não tanto assim. Contudo, tenho a impressão de que o Messias não considera as oportunidades. Ainda hoje, tive a atenção reclamada por doutores da lei que me fizeram sentir a inutilidade das pregações evangélicas, sempre levadas a efeito entre as pessoas mais ignorantes e desclassificadas. Ora, as reivindicações do nosso povo exigem um condutor enérgico e altivo.


- Israel - retrucou o filho de Zebedeu, de olhar sereno - sempre teve orientadores revolucionários; o Messias, porém, vem efetuar a verdadeira revolução, edificando o seu reino sobre os corações e nas almas!...
Judas sorriu, algo irônico, e acrescentou:


-Mas poderemos esperar renovações, sem conseguirmos o interesse e a atenção dos homens poderosos?


- E quem haverá mais poderoso do que Deus, de quem o Mestre é o Enviado divino?


Em face dessa invocação, judas mordeu os lábios, mas prosseguiu:


- Não concordo com os princípios de inação e creio que o Evangelho somente poderá vencer com o amparo dos prepostos de César ou das autoridades administrativas de Jerusalém que nos governam o destino. Acompanhando o Mestre nas suas pregações em Cesaréia, em Sebaste, em Corazim e Betsaida, quando das suas ausências de Cafarnaum, jamais o vi interessado em conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida. É certo que de seus lábios divinos sempre brotaram a Verdade e o Amor, por toda a parte; mas só observei leprosos e cegos, pobres e ignorantes, abeirando-se de nossa fonte.


- Jesus, porém, já nos esclareceu - obtemperou Tiago com brandura - que o seu reino não é desse mundo.


Imprimindo aos olhos inquietos um fulgor estranho, o discípulo impaciente revidou com energia.


- Vimos hoje o povo de Jerusalém atapetar o caminho do Senhor com as palmas da sua admiração e do seu carinho; precisamos, todavia, impor a figura do Messias às autoridades da Corte Providencial e do Templo, de modo a aproveitarmos esse surto de simpatia. Notei que Jesus recebia as homenagens populares sem partilhar do entusiasmo febril de quantos o cercavam, razão por que necessitamos multiplicar esforços, em lugar dele, a fim de que a nossa posição de superioridade seja reconhecida em tempo oportuno.


- Recordo-me, entretanto, de que o Mestre nos asseverou, certa vez, que o maior na comunidade será aquele que se fizer o menor de todos.


- Não podemos levar em conta esses excessos de teoria. Interpelado que vou ser hoje por amigos influentes na política de Jerusalém, farei o possível por estabelecer acordos com os altos funcionários e homens de importância, para imprimirmos novo movimento às idéias do Messias.


- Judas! Judas!... - observou-lhe o irmão de apostolado, com doce veemência - lá o que fazes! Socorreres-te dos poderes transitórios do mundo, sem um motivo que justifique esse recurso, não será desrespeito à autoridade de Jesus? Não terá o mestre visão bastante para sondar e reconhecer os corações? O hábito dos sacerdotes e a toga dos dignitários romanos são roupages para a Terra... As idéias do Mestre são do Céu e seria sacrilégio misturarmos a sua pureza com as organizações viciadas do mundo!... Além de tudo, não podemos ser mais sábios, nem mais amorosos do que Jesus e ele sabe o melhor caminho e a melhor oportunidade para a conversão dos homens!... As conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possivel que nos transformemos em orgão de escândalo para a verdade que o Mestre representa.


Judas silenciou, aflito


No firmamento, os derradeiros raios de sol batiam nas nuvens distantes, enquanto os dois discípulos tomavam rumos diferentes.


...




Sem embargo das carinhosas exortações de Tiago, Judas Iscariotes passou a noite tomado de angustiosas inquietações.
Não seria melhor apressar o triunfo mundano do Cristianismo? Israel não esperava um messias que enfeixasse nas mãos todos os poderes? Valendo-se da doutrina do Mestre, poderia tomar para si as rédeas do movimento renovador, enquanto Jesus, na sua bondade e simpleza, ficaria entre todos, como um símbolo vivo da idéia nova.


Recordando suas primeiras conversações com as aoutoridades do Sinédrio, meditava na execução de seus sombrios desígnios.


A madrugada o encontrou decidido, na embriaguez de seus sonhos ilusórios.Entregaria o Mestre aos homens do poder, em troca de sua nomeação oficial para dirigir a atividade dos companheiros. Teria autoridade e privilégios políticos. Satisfaria suas ambições, aparentemente justas, com o fim de organizar a vitória cristã no seio de seu povo. Depois de atingir o alto cargo com que contava, libertaria Jesus e lhe dirigiria os dons espirituais, de modo a utilizá-los para a conversão de seus amigos e protetores prestigiosos...


O Mestre, a seu ver, era demasiadamente humilde e generoso para vencer sozinho, por entre a maldade e a violência.


Ao desabrochar a alvorada, o discípulo imprevidente demandou o centro da cidade e, após horas, era recebido pelo Sinédrio, onde lhe foram hipotecadas as mais relevantes promessas.


Apesar de satisfeito com a sua mesquinha gratificação e desvairado no seu espírito ambicioso, Judas amava o Messias e esperava ansiosamente o instante do triunfo para lhe dar a alegria da vitória cristã, através das manobras políticas do mundo.


O prêmio da vaidade, porém, esperava a sua desmedida ambição.


Humilhado e escarnecido, seu Mestre bem-amado foi conduzido à cruz da ignomínia, sob vilipêndios e flagelações.


Daqueles lábios, que haviam ensinado a Verdade e o bem, a simplicidade e o amor, não chegou a escapar-se uma queixa. Martirizado na sua estrada de angústias, o Messias só teve o máximo de perdão para seus algozes.


Observando os acontecimentos, que lhe contrariavam as mais íntimas suposições, Judas Iscariotes se dirigiu a Caifás, reclamando o comprimento de suas promessas. Os sacerdotes, porém, ouvindo-lhe as palavras tardias, sorriram com sarcasmo. Debalde recorreu as suas prestigiosas relações de amizade: teve de reconhecer a falibilidade das promessas humanas. Atormentado e aflito, buscou os companheiros de fé, porém, descobrir em cada olhar a mesma exprobração silenciosa e dolorida.




...




Já se havia escoado a hora sexta, em que o Mestre expirara na cruz, implorando perdão para seus verdugos.


De longe, Judas contemplava todas as cenas angustiosas e humilhantes do Calvário. Atroz remorso lhe pungia a consciência dilacerada. Lágrimas ardentes lhe rolavam dos olhos tristes e amortecidos. Malgrado a vaidade que o perdera, ele amava intensamente o Messias.


Em breves instantes, o céu da cidade impiedosa se cobriu de nuvens escuras e borrascosas. O mau discípulo, com um oceano de dor na consciência, peregrinou em derredor do casario maldito, acalentando o propósito de deserdar do mundo, numa suprema traição aos compromissos mais sagrados de sua vida.


Antes, porém, de executar seus planos tenebrosos, junto à figueira sinistra, ouvia a voz amargurada do seu tremendo remorso.


Relâmpagos terríveis rasgavam o firmamento; trovões violentos pareciam lançar sobre a Terra criminosa a maldição do Céu vilipendiado e esquecido.


Mas, sobre todas as vozes confusas da Natureza, o discípulo infeliz escutava a voz do Mestre, consoladora e inesquecível, penetrando-lhe os refolhos mais íntimos da alma:




-"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao pai, senão por mim!...".








domingo, 4 de outubro de 2009

Me ajudem na minha pesquisa...

Olá amigos
 
Meu nome é Claudia e estou fazendo uma pesquisa sobre o medo e gostaria de convidar vocês para responderem a um formulário bem simples.
Não precisa de identificar, cadastrar, nada, apenas ser honesto e responder o formulário.
 
Você irá encontrá-lo no link abaixo.
http://www.krda.com.br/pesquisa/formulario.htm
 
Desde já agradeço a todos que quiserem participar
 
Uma abraço
Claudia

PERSONALISMO


O personalismo de caráter religioso é um dos entraves mais sérios à evolução do espírito. O Espiritismo não prega sectarismo de qualquer espécie. Não nos esqueçamos das palavras que o Senhor dirigiu aos apóstolos, quando se havia estabelecido discussão acerca de quem, entre eles, no Reino dos Céus se sentaria à sua direita e à sua esquerda: "Saibais que os príncipes das nações dominam seus vassalos e que os maiores exercitam sobre eles o seu poder. Não será assim entre vós; mas aquele que quiser ser o maior esse seja o vosso servidor..."

domingo, 20 de setembro de 2009

ESTUDO NA PARÁBOLA


Comentávamos a necessidade da divulgação da Doutrina Espirita, quando o rabi Zoar ben Ozias, distinto orientador israelita, hoje consagrado às verdades do Evangelho no Mundo Espiritual, pediu licença a fim de parafrasear a parábola dos talentos, contadas por Jesus, e falou, simples:

- Meus amigos, o Senhor da Terra, partindo, em caráter temporário, para fora do mundo, chamou três dos seus servos e, considerando a capacidade de cada um confiou-lhes alguns dos seus próprios bens, a título de empréstimo, participando-lhes que os reencontraria, mais tarde, na Vida Superior...

Ao primeiro transmitiu o Dinheiro, o Poder, o Conforto, a Habilidade e o Prestígio; ao segundo concedeu a Inteligência e a Autoridade e ao terceiro entregou o Conhecimento Espírita.

Depois de longo tempo, os três servidores, assustados e vacilantes, compareceram diante do Senhor para as contas necessárias.

O primeiro avançou e disse:

- Senhor, cometi muitos disparates e não consegui realizar-te a vontade, que determina o bem para todos os seus súditos, mas, com os cinco talentos que me puseste nas mãos, comecei a cultivar, pelo menos com pequeninos resultados, outros cinco, que são o Trabalho, o Progresso, a Amizade, a Esperança e a Gratidão, em alguns dos companheiros que ficaram no mundo... Perdoa-me, ó Divino Amigo, se não pude fazer mais!...

O Senhor respondeu tranquilo:

- Bem está, servo fiel, pois não erraste por intenção... Volta ao campo terreste e reinicia a obra interrompida, renascendo sob o amparo das afeições que ajuntaste.


Veio o segundo e alegou:

-Senhor, digna-te desculpar-me a incapacidade... Não pude compreender claramente os desígnios que preceituam a felicidade igual para todas as criaturas e perpetrei lastimáveis enganos... Ainda assim, mobilizei os dois valores que me deste e, com eles, angariei dois outros que são a Cultura e a Experiência para muitos dos irmãos que permanecem na retaguarda...

O Excelso Benfeitor replicou, satisfeito:

-Bem Está, servo fiel, pois não erraste por intenção... Volta ao campo terreste e reinicia a obra interrompida, renascendo sob o amparo das afeições que ajuntaste.


O terceiro adiantou-se e explicou:

-Senhor, devolvo-te o Conhecimento Espírita, intocado e puro, qual o recebi de tua munificência... O Conhecimento Espírita é luz, Senhor, e, com ele, aprendi que a tua Lei é dura demais, atribuindo a cada um conforme as próprias obras. De que modo usar uma lâmpada assim, brilhante e viva, se os homens na Terra estão divididos por pesadelos de inveja e ciúme, crueldade e ilusão? Como empregar o clarão de tua verdade sem ferir um incomodar? E como incomodar ou ferir, sem trazer deploráveis consequências para mim próprio? Sabes que a Verdade, entre os homens, cria problemas onde aparece... Em vista disso, tive medo de tua Lei e julguei como sendo a medida mais razoável para mim o acomodar-me com o sossego de minha casa... Assim pensando, ocultei o dom que me recomendaste aplicar e restituo-te semelhante riqueza, sem o mínimo toque de minha parte!...

-Servo infiel, não existe para a tua negligência outra alternativa senão a de recomeçar toda a tua obra pelos mais obscuros entraves do princípio...

-Senhor!... Senhor!...- Chorou o servo displicente. - Onde a tua equidade? Deste aos meus companheiros o Dinheiro, o Poder, o Conforto, a Habilidade, o Prestígio, a Inteligência e a Autoridade, e a mim concedeste tão-só o Conhecimento Espírita... Como fazes cair sobre mim todo o peso de tua severidade?


O Senhor, entretanto, explicou brandamente:

-Não desconheces que te atribuí a luz da verdade como sendo o bem maior de todos. Se ambos os teus companheiros não acertaram em tudo , é que lhes faltava o discernimento que lhes podias ter ministrado, através do exemplo, de que fugiste por medo da responsabilidade de corrigir amando e trabalhar instruindo... Escondendo a riqueza que te emprestei, não só te perdeste pelo temor de sofrer e auxiliar, como também prejudicaste a obra deficitária de teus irmãos, cujos dias no mundo teriam alcançado maior rendimento no Bem Eterno, se houvessem recebido o quinhão de amor e serviço, humildade e paciência que lhes negaste!...


-Senhor!... Senhor!... Porquê? - Soluçou o infeliz - porque tamanho rigor, se a tua Lei é de Misericórdia e Justiça?


Então os assessores do Senhor conduziram o servo desleal para as sombras do recomeço, esclarecendo a ele que a Lei, realmente, é disciplina de Misericórdia e Justiça, mas com uma diferença: para os ignorantes do dever, a justiça chega pelo alvará da Misericórdia; mas, para as criaturas conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega pelo cárcere da Justiça.


(Londres, Inglaterra, 10.08.1965)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O CONSOLADOR - Pergunta 96


96 - Toda a moléstia do corpo tem ascendentes espirituais?


- As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. A patogenia é um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico.

E é ainda na alma que reside a fonte primária de todos os recursos medicamentosos definitivos. A assistência farmacêutica do mundo não pode remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. O remédio eficaz está na ação do próprio espírito enfermiço.

Podeis objetar que as injeções e os comprimidos suprimem a dor; todavia, o mal ressurgirá mais tarde nas células do corpo. Indagareis, aflitos, quanto às moléstias incuráveis pela ciência da Terra e eu vos direi que a reencarnação, em si mesma, nas circunstâncias do mundo envelhecido nos abusos, já representa uma estação de tratamento e de cura e que há enfermidades dalma, tão persistentes, que podem reclamar várias estações sucessivas, com a mesma intensidade nos processos regeneradores.

sábado, 5 de setembro de 2009


SALVE A NATUREZA NO CIO

domingo, 30 de agosto de 2009

NECESSIDADE DO SACRIFÍCIO






Fora da carne, compreende-se a excelência da abnegação e do sacrifício a prol de outrem. A maioria das nossas obras pessoais são como bolhas de água sabonada que se dispersam nos ares, porque , visando ao bem-estar e ao repouso do "eu", têm como base o egoísmo que atrofia a nossa evolução. Toda a felicidade do Espírito provém da felicidade que deu aos outros, todos os seus bens são oriundos do bem que espalhou desinteressadamente.




Compreendendo essas verdades, muitas vezes após as transformações da morte, não as assimilamos tardiamente, porque, de posse das realidades próximas do Absoluto, concatenamos as nossas possibilidades, laborando ativamente na obra excelsa do bem comum e do progresso geral, encontrando, assim, forças novas que nos habilitam a merecido êxito em novas existências de abnegação que nos levarão às esferas felizes do Universo.




Venturosos são os raros Espíritos que sentem a excelsitude dessas verdades na vida corporal. Sacrificando-se em benefício dos semelhantes, experimentam, mesmo sob a cruz das dores, a suave emoção das venturas celestes que os aguardam nos planos aperfeiçoados do infinito.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

NOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LUMEN

Relato de outra Terra

Por Camille Flammarion, professor de astronomia, ligado ao observatório de Paris. Este não é um livro, mas um artigo que poderia fazer um livro interessante e sobretudo instrutivo, porque seus dados são fornecidos pela ciência positiva, e tratados com a clareza e a elegância que o jovem sábio traz em todos os seus escritos. O Sr. Camille Flammarion é conhecido de todos os nossos leitores por sua excelente obra
sobre a Pluralidade dos mundos habitados, e pelos artigos científicos que publica no Siècle. Aquele do qual vamos dar conta foi publicado na Revue du XÍXo século, de 1o de fevereiro de 1867 (1-(1) Cada número forma um volume de 160 páginas grandes in-8. Preço 2 fr. Paris, livraria internacional, 15, bulevard Montmartre, e 18, avenida Montaigne, palais Pompéien.).
 
O autor supõe uma conversa entre um indivíduo vivo chamado Sitiens, e o Espírito de um de seus amigos chamado Lumen, que lhe descreve seus últimos pensamentos terrestres, as primeiras sensações da vida espiritual, e as que acompanham o fenômeno da separação. Esse quadro é de uma conformidade perfeita com o que os Espíritos nos ensinaram a esse respeito; é o Espiritismo mais exato, menos a palavra que não é pronunciada. Será julgado pelas citações seguintes:

"A primeira sensação de identidade que se sente depois da morte parece aquela que se sente ao despertar durante a vida, quando, retornando pouco a pouco à consciência da manhã, se está ainda atravessado pelas visões da noite. Solicitado pelo futuro e pelo
passado, o Espírito procura, ao mesmo tempo, retomar plena posse de si mesmo e agarraras impressões fugidias do sonho desvanecido, que passam ainda nele com o seu cortejo de quadros e de acontecimentos. Por vezes, absorvido por essa retrospecção de
um sonho cativante, sente sob a pálpebra que se fecha, as urdiduras da visão se renovarem, e o espetáculo continuar; ao mesmo tempo, ele cai no sonho e numa espécie de sonolência. Assim balança a nossa faculdade pensante ao sair desta vida, entra uma
realidade que ela ainda não compreende, e um sonho que não está completamente desaparecido."

Nota. Nesta situação do Espírito, não há nada de espantoso em que alguns não creiam estar mortos. "A morte não existe. O fato que designais sob este nome, a separação do corpo e da alma, não se efetua, verdadeiramente dizendo, sob uma forma material comparável às separações químicas dos elementos dissociados que se observam no mundo físico. Não se percebe mais dessa separação definitiva, que nos parece tão cruel do que a criança recém-nascida não se percebe de seu nascimento; somos nascidos na vida futura como o
fomos na vida terrestre. Unicamente, não estando mais envolvida das faixas corpóreas que a revestem neste mundo, adquire mais prontamente a noção de seu estado e de sua personalidade. Esta faculdade de percepção varia. no entanto, de uma alma a outra. Há
as que, durante a vida do corpo, não se elevaram jamais para o céu e jamais se sentiram ansiosas em penetrar as leis da criação. Aquelas, ainda dominadas pelos apetites corpóreos, permanecem por muito tempo no estado de perturbação inconsciente. Há outras delas, felizmente, que, desde esta vida, voam sobre suas aspirações aladas para os cimos do belo eterno; aquelas vêem chegar com calma e serenidade o instante da separação; elas sabem que o progresso é a lei da existência e que entrarão, no além, numa vida superior àquela sua daqui; seguem passo a passo a letargia que prepara o seu coração, que quando o último batimento, lento e insensível, o detém em seu curso, elas já estão acima de seu corpo, do qual observaram o adormecimento, e, livrando-se dos laços magnéticos, elas se sentem rapidamente levadas, por uma força desconhecida, para o ponto da criação onde suas aspirações, seus sentimentos, suas esperanças, as atraem.

"Os anos, os dias e as horas são constituídos pelos movimentos da Terra. Fora destes movimentos o tempo terrestre não existe mais no espaço; é, pois, absolutamente impossível ter noção desse tempo."

Nota. - Isto é rigorosamente verdadeiro; também quando os Espíritos querem nos especificar uma duração inteligível para nós, são obrigados a se identificarem de novo com os hábitos terrestres, de se refazerem homens, por assim dizer, a fim de se servir dos mesmos pontos de comparação. Logo depois de sua libertação, o Espírito de Lumen é transportado com a rapidez do pensamento para o grupo de mundos compondo o sistema de estrelas designado em astronomia sob o nome de Capellaou a Chèvre. A teoria que dá da visão da alma é notável.

"A visão de minha alma era de um poder incomparavelmente superior àquela dos olhos do organismo terrestre que eu vinha de deixar; e, observação surpreendente, seu poder me parecia submetido à vontade. Que me baste vos fazer pressentir que, em lugar de ver simplesmente as estrelas no céu, como as vedes na Terra, eu distinguia claramente os mundos que gravitam em torno; quando desejava não mais vera estrela, a fim de não estar mais torturado pelo exame desses mundos, ela desaparecia de minha visão, e me deixava em excelentes condições para observar um desses mundos. Além disto, quando minha visão se concentrava sobre um mundo particular, chegava a distinguires detalhes de sua superfície, os continentes e os mares, as nuvens e os rios.

Por uma intensidade particular de concentração na visão da minha alma, chegava a ver o objeto sobre o qual ela se concentrava, como, por exemplo, uma cidade, um campo, os edifícios, as ruas, as casas, as árvores, as veredas; reconhecia mesmo os habitantes e seguia as pessoas nas ruas e nas habitações. Bastava-me para isto limitar meu pensamento ao quarteirão, à casa, ou ao indivíduo que eu queria observar. No mundo a margem do qual acabava de chegar, os seres, não encarnados num envoltório grosseiro como o deste mundo, mas, livres e dotados de faculdades de percepções elevada a um eminente grau de poder, podem perceber distintamente os detalhes que, nessa distância, estariam absolutamente ocultos às organizações terrestres.
 
SITIENS. É que se servem para isso de instrumentos superiores aos nossos telescópios?

LUMEN. Se, por ser menos rebelde à admissão desta maravilhosa faculdade, vos é mais fácil concebê-los munidos de instrumentos, vós o podeis por teoria. Mas devo vos advertir que essas espécies de instrumentos não são exteriores a esses seres, e que pertencem ao próprio organismo da visão. É bem entendido que essa construção ótica e esse poder de visão são naturais nesses mundos, e não sobrenaturais. Pensai um pouco nos insetos que gozam da propriedade de encurtar ou de alongar seus olhos, como os tubos de uma luneta, de inchar ou achatar seu cristalino para dele fazer uma lupa de diferentes graus, ou ainda de concentrar ao mesmo foco uma multidão de olhos apontados como tantos microscópios para agarrar o infinitamente pequeno, e podereis mais legitimamente admitir a faculdade desses seres ultra terrestres."

O mundo em que se encontra Lumen está a uma distância tal da Terra que a luz não chega de um ao outro senão ao cabo de setenta e dois anos. Ora, nascido em 1793 e morto em 1864, na sua chagada em Capela, donde leva a sua visão sobre Paris, Lumen não reconhece mais a Paris que vem de deixar. Os raios luminosos partidos da Terra, não chegando a Capela senão depois de setenta e dois anos, lhe chegava a imagem do que ali se passou em 1793.

Ali está a parte realmente científica do relato; todas as dificuldades nele são resolvidas da maneira mais lógica. Os dados, admitidos em teoria pela ciência, ali são demonstrados pela experiência; mas esta experiência não podendo ser feita diretamente pelos homens, o autor supõe um Espírito que dá conta dessas sensações, e colocado em condições de poder estabelecer uma comparação entre a Terra e o mundo que habita.
 
A idéia é engenhosa e nova. É a primeira vez que o Espiritismo verdadeiro e sério, embora sob o anonimato, é associado à ciência positiva, e isto por um homem capaz de apreciar um e o outro, e de compreender o traço de união que deverá religá-los um dia. Esse trabalho, ao qual reconhecemos, sem restrição uma importância capital, nos parece ser um daqueles que os Espíritos nos anunciaram como devendo marcar o presente ano.

Analisaremos esta segunda parte num próximo artigo.
Revista Espírita
Março de 1867
Allan Kardec

domingo, 26 de julho de 2009

APELO AOS MÉDIUNS




Médiuns, ponderai vossas obrigações sagradas! preferi viver na maior das provações a cairdes na estrada larga das tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos pontos vulneráveis.


Recordai-vos de que é preciso vencer, se não quiserdes soterrar a vossa alma na escuridão dos séculos de dor expiatória. Aquele que se apresenta no Espaço como vencedor de si mesmo é maior que qualquer dos generais terrenos, exímio na estratégia e tino militares. O homem que se vence faz o seu corpo espiritual apto a ingressar em outras esferas e, enquanto não colaborardes pela obtenção desse organismo etéreo, através da virtude e do dever cumprido, não saireis do círculo doloroso das reencarnações.

domingo, 19 de julho de 2009


Quem ama esta a frente
daqueles que simplesmente
sabem.

domingo, 12 de julho de 2009

JUDAS ISCARIOTES

Silêncio augusto cai sobre a Cidade Santa. A antiga capital da Judéia parece dormir o seu sono de muitos séculos. Além descansa Getsêmani, onde o Divino Mestre chorou uma longa noite de agonia, acolá está o Gólgota sagrado e em cada coisa silenciosa há traços da Paixão que as épocas guardarão para sempre. E, em meio de todo o cenário, como um veio cristalina de lágrimas, passa o Jordão silencioso, como se suas águas mudas, buscando o Mar Morto, quisessem esconder das coisas tumultuosas dos homens os segredos insondáveis do Nazareno.


Foi assim, numa dessas noites que vi Jerusalém, vivendo a sua eternidade de maldições.


Os espíritos podem vibrar em contato direto com a história. Buscando uma relação íntima com a cidade dois profetas, procurava observar o passado vivo dos lugares santos. Parece que as mãos iconoclastas de Tito por ali passaram como executoras de um decreto irrevogável.


Por toda a parte ainda persiste um sopro de destruição e desgraça. Legiões de duendes, embuçados nas suas vestimentas antigas, percorrem as ruínas sagrada e no meio das fatalidades que pesam sobre o empório morto dos judeus, não ouvem os homens os gemidos da humanidade invisível.


Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde o precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.


- Sabe quem é esse? - murmurou alguém aos meus ouvidos - este é Judas.


- Judas?!...


- Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo em que se comemora a paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...


Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estava ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração, ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.


- O senhor é, de fato, o filho de Iscariotes? - perguntei.


- Sim, sou Judas - respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.


E prosseguiu:


- Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...


- É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?

- Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às trincas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciões judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder já que, no seu manto de pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra e queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma. o que aliás apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suícidio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.

- E chegou a salvar-se pelo arrependimento?
- Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minha provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vitima da felonia e da traição deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...
- E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com tristeza.
- Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso reino das alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de misérias e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplício redentores.
Quanto ao divino Mestre - continuou Judas com os seus prantos - infinita é sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sento criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado.
- É verdade - conclui - e os negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-Lo.
Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

DESTE OUTRO LADO DA VIDA

Quase todo espírita com quem já pude me encontrar anda cabisbaixo...
Perguntei a um deles:
- Por que, meu irmão, se você trabalhou tanto?...
Ele me respondeu:
- Trabalhei, Chico, mas trabalhei muito mais para mim na Doutrina do
que pela Doutrina trabalhei para mim...

domingo, 5 de julho de 2009


NOS DIAS TUMULTUADOS DO MUNDO,
QUANDO TUDO TE PAREÇA AGITAÇÃO E
DESARMONIA, CENTRALIZA-TE NA FÉ E
AGE CONSTRUINDO O MELHOR AO TEU
ALCANCE.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A TERRA - OBSCURO PLANETA DE EXÍLIO E DE SOMBRA - VISTA DO ALÉM

Após adaptar-me mais ou menos a essa nova vida, ocorreu-me como vos poderia rever e solicitei de um instrutor informações a respeito.
- Sabes em que direção está a Terra? - perguntou ele com bondade.
Diante da minha natural ignorância, apontou-me com a destra um ponto obscuro que se perdia na imensidade, recomendando fitá-lo atentamente. Afigurou-se-me vê-lo crescer dentro de um turbilhão de sirocos indescritíveis. Parecia-me contemplar a impetuosidade de um furacão a envolver grande massa compacta de cinzas enegrecidas.
Tomada de inusitado receio, desviei o olhar; porém, o meu solícito guia, exclamou com brandura:
- Lá está a Terra com seus contrastes destruidores; os ventos da iniquidade varrem-na de pólo a pólo, entre brados angustiosos dos seres que se debatem na aflição e no morticínio. O que viste é o efeito das vibrações antagônicas, emitidas pela humanidade atormentada nas calamidades da guerra. Lá alimentam-se as almas com a substância amargosa das dores e sobre a sua superfície a vida é o direito do mais forte. Triste existência a dessas criaturas que se trucidam mutuamente para viver.
São comuns, ali, as chacinas, a fome, a epidemia, a viuvez, a orfandade que aqui não conhecemos... Obscuro planeta de exílio e de sombra! Entretanto, no universo, poucos lugares abrigarão tanto orgulho e tanto egoísmo! Por tal motivo é que esse mundo necessita de golpes violentos e rudes.
Busca ver naquelas regiões ensanguentadas o local em que estiveste. Pensa nos que lá deixaste cheios de amargurosa saudade! Deus permite e eu te auxilio.

domingo, 21 de junho de 2009


Sem amor no coração, toda
tentativa de entendimento entre as
criaturas é utopia.

segunda-feira, 15 de junho de 2009


TRABALHOS DE SÁBADO: 19hs - Estudo Livro Céu e Inferno

20hs - Palestra

Após Irradiação e passe

domingo, 14 de junho de 2009

TEMOS JESUS
Desaba o Velho Mundo em treva densa
A guerra, como lobo carniceiro,
Ameaça a verdade e humilha a crença,
Nas torturas de um novo cativeiro.
Mas vós, no turbilhão da sombra imensa,
Tendes convosco o Excelso Companheiro,
Que ama o trabalho e esquece a recompensa
No serviço do bem ao mundo inteiro.
Eis que a Terra tem crimes e tiranos,
Ambições, desvarios, desenganos,
Asperezas dos homens da caverna;
Mas vós tendes Jesus em cada dia.
Trabalhemos na dor ou na alegria,
Na conquista de luz da Vida Eterna.
(Abel Gomes-Parnaso de Al-em Túmulo)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Uma história chinesa

Uma história chinesa mostra a transformação radical que ocorre na alma humana ao exercitar o amor pelo outro, manifestado sob a forma de carinho, cuidado e atenção, o húmus fértil onde pode nascer aquele que é o mais precioso dos sentimentos: – "A pequena Sun Tui, esposa do filho de um mercador, tinha como sogra uma megera, que deixava todas as tarefas da casa para Sun Tui fazer. Era um tal de "Sun Tui, faz minhas tranças "para cá, "Sun Tui ", dê de comer aos porcos " para lá, um inferno para a jovem que era ainda quase uma criança. Sun Tui não tinha nem um minuto de descanso e odiava a sogra.

Desesperada, um dia ela foi ao mestre herborista da vila implorar um veneno para colocar no chá da sogra. Contou, chorando, toda a triste história de suas desgraças, e o especialista em ervas decidiu ajudá-la. "Vou lhe dar um veneno potentíssimo, de ação lenta e segura " , disse ele. " Mas é preciso dá-lo aos pouquinhos , todos os dias . Assim ninguém suspeitará de você nem de mim quando sua sogra morrer . Nesse período , para evitar suspeitas , você deve fingir tratar sua sogra com todo carinho , satisfazendo seus caprichos com alegria, cuidando dela com amor e tolerância", continuou o herborista. "Só assim poderei ajudá-la ", concluiu.

Sun Tui aceitou imediatamente as condições e desdobrou-se em cuidados. Antecipava os desejos da megera, trazia flores e mimos para arrancar seus sorrisos , caprichava nos bolos e doces que servia no lanche da tarde. A casa vivia brilhando e ela não reclamava mais ao marido. Mas não se esquecia de colocar o veneno no chá da sogrinha toda noite.

Acontece que, com as novas atitudes da nora, a megera amoleceu . Num dia pediu para Sun Tui sentar e descansar aos seus pés, enquanto lhe contava uma história. No outro, separava um lindo corte de brocado para a jovem fazer um vestido. Ou então presenteava-a com pulseiras e anéis de jade, para que pudesse ficar mais bonita. Quem as visse, pensaria que eram mãe e filha.

Sun Tui também começou a abrandar. O carinho, o cuidado e a preocupação com a sogra passaram a ser reais. E certo dia, arrependida por ter tido vontade de matar sua antiga inimiga, voltou desesperada ao herborista – dessa vez para implorar por um antídoto.

O mestre escutou pacientemente as lamúrias de Sun Tui. Pediu o veneno de volta e ela, obediente, entregou o pacotinho. Diante dos olhos arregalados da menina, o herborista despejou o conteúdo de uma só vez no chá e o tomou. Sorrindo. O velho herborista, que conhecia a alma humana, tinha usado de um artifício para despertar o coração da menina. Nunca houve veneno e nem era preciso o antídoto. Sun Tui tinha aprendido a amar".

Amar é assim, mais que um sentimento platônico é uma forma de conduta; e a conduta reiterada gera o "nosso jeito de ser" perceptível pelo outro. Amar é verbo e verbo é ação:

-É acarinhar, é cuidar, é tolerar, é atender ao outro, é dedicar-se ao outro de uma forma tão constante que o outro passa a confiar nessa relação sem medo de ser ferido em seus sentimentos. Quem ama pratica os verbos do amor sem esperar retribuição. Ama.

Simplesmente ama.

Fonte: Vida Simples – Editora Abril

FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

Se procuras ensejo para realizar-te,
em matéria de paz e felicidade, age e serve sempre.

Emmanuel

FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO (ESE)