domingo, 26 de setembro de 2010

MARIA

Junto da cruz, o vulto agoniado de Maria produzia dolorosa e indelével impressão. Com o pensamento ansioso e torturado, olhos fixos no madeiro das perfídias humanas, a ternura materna regredia ao passado em amarguradas recordações. Ali estava, na hora extrema, o filho bem-amado.

Maria deixava-se ir na corrente infinita das lembranças. Eram circunstâncias maravilhosas em que o nascimento de Jesus lhe fora anunciado, a amizade de Isabel, as profecias do velho Simeão, reconhecendo que a assistência de Deus se tornara incontestável nos menores detalhes da vida. Naquele instante supremo, revia a manjedoura, na sua beleza agreste, sentindo que a Natureza parecia desejar dizer aos seus ouvidos o cântico de glória daquela noite inolvidável. Através do véu espesso das lágrimas, repassou, uma por uma, as cenas da infância do filho estremecido, observando o alarma interior das mais doces reminiscências.

Nas menores coisas, reconhecia a intervenção da Providência Celestial; entretanto, naquela hora, seu pensamento vagava também pelo vasto mar das mais aflitivas interrogações.

Que fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Não o vira crescer de sentimentos imaculados, sob o calor de seu coração? Desde os mais tenros anos, quando o conduzia à fonte tradicional de Nazaré, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. frequentemente, ia buscá-lo nas ruas empedradas, onde a sua palavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e tristes. Viandantes misérrimos vinha a sua casa modesta louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as bênçãos do Céu. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José!... Lembrava-se bem de que, um dia, a divina criança guiara à casa dois malfeitores publicamente reconhecidos como ladrões do vale de Mizhep. E era de ver-se a amorosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Muitas vezes, comentara a excelência daquela virtude santificada, receando pelo futuro de seu adorável filhinho.

Depois do caricioso ambiente doméstico, era a missão celestial, dilatando-se em colheita de frutos maravilhosos. Eram paralíticos que retomavam os movimentos da vida, cegos que se reintegravam nos sagrados dons da vista, criaturas famintas de luz e de amor que se saciavam na sua lição de infinita bondade.

Que profundo desígnio haviam conduzido seu filho adorado à cruz do suplício?
Uma voz amiga lhe falava ao espírito, dizendo das determinações insondáveis e justas de Deus, que precisam ser aceitas para a redenção divina das criaturas. Seu coração rebentava em tempestades de lágrimas irreprimíveis; contudo, no santuário da consciência, repetia a sua afirmação de sincera humildade: "Faça-se na escrava a vontade do Senhor!".
Da alma angustiada, notou que Jesus atingira o último limite dos padecimentos inenarráveis. Alguns dos populares mais exaltados multiplicavam as pancadas, enquanto as lanças riscavam o ar, em ameaças audaciosas e sinistras. Ironias mordazes eram proferidas a esmo, dilacerando-lhe a alma sensível e afetuosa.
Em meio de algumas mulheres compadecidas, que lhe acompanhavam o angustioso transe, Maria reparou que alguém lhe pousara as mãos, de leve, sobre os ombros.
Deparou-se-lhe a figura de João que, vencendo a pusilanimidade criminosa em que haviam mergulhado os demais companheiros, lhe estendia os braços amorosos e reconhecidos. Silenciosamente, o filho de Zebedeu abraçou-se àquele triturado coração maternal. Maria deixou-se enlaçar pelo discípulo querido e ambos, ao pé do madeiro, em gesto súplice, buscaram ansiosamente a luz daqueles olhos misericordiosos, no cúmulo dos tormentos. Foi aí que a fronte do divino supliciado se moveu vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas duas almas em extremo desalento.
- Meu filho! Meu amado filho!... - exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível.
O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes:
- Mãe, eis aí teu filho!... - E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao Apóstolo, disse: - Filho, eis aí sua mãe.
Maria envolveu-se no véu de seu pranto doloroso, mas o grande evangelista compreendeu que o Mestre, na sua derradeira lição, ensinava que o amor universal era o sublime coroamento de sua obra. Entendeu que, no futuro, a claridade do Reino de Deus revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo o egoísmo e que, no santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não só para o círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios exteriores, consagrados a uma solidariedade claudicante.
Por muito tempo, conservaram-se ainda ali, em preces silenciosas, até que o Mestre, exânime, fosse arrancado à cruz,, antes que a tempestade mergulhasse a paisagem castigada de Jerusalém num dilúvio de sombras.
. . .
Após a separação dos discípulos, que se dispersaram por lugares diferentes, para difusão da Boa Nova, Maria retirou-se para Batanéia, onde alguns parentes mais próximos a esperavam com especial carinho.
Os anos começaram a rolar, silenciosos e tristes, para a angustiada saudade de seu coração.
Tocada por grandes dissabores, observou que, em tempo rápido, as lembranças do filho amado se convertiam em elementos de ásperas discussões entre os seus seguidores. Na Batanéia, pretendia-se manter uma certa aristocracia espiritual, por efeito dos laços consanguínios que ali a prendiam, em virtude dos elos que a ligavam a José. Em Jerusalém, digladiavam-se os cristãos e os judeus, com veemência e acrimônia. Na Galiléia, os antigos cenáculos simples e amoráveis da Natureza estavam tristes e desertos.
Para aquela mãe amorosa, cuja alma digna observava que o vinho generoso de Canã se transformara no
vinagre do martírio, o tempo assinalava sempre uma saudade maior no mundo e uma esperança cada vez mais elevada no Céu.
Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso da saudade, às lembranças mais queridas. Tudo que o passado feliz edificara em seu mundo interior revivia na tela de suas lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, e lhe alimentavam a seiva da vida.
Relembrava o seu Jesus pequenino, como naquela noite de beleza prodigiosa, em que recebera nos braços maternais, iluminado pelo mais doce mistério. Figurava-se-lhe escutar ainda o balido das ovelhas que vinham, apressadas, acercar-se do berço que se formara de improviso. E aquele primeiro beijo, feito de carinho e de luz? As reminiscências envolviam a realidade longínqua de singulares belezas para seu coração sensível e generoso. Em seguida, era o rio das recordações desaguando, sem cessar, na sua alma rica de sentimentalidade e ternura. Nazaré lhe voltava à imaginação, com as suas paisagens de felicidade e de luz. A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações.
A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes as observações que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na Batanéia, oferecendo àquele Espírito saudoso de mãe o refúgio amoroso de sua proteção. Maria aceitou o oferecimento, com satisfação imensa.
E João lhe contou a sua nova vida. Instalara-se definitivamente em Éfeso, onde as ideias cristãs ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvidara as recomendações do Senhor e, no íntimo, guardava aquele título de filiação com das mais altas expressões de amor universal pra com aquela que recebera o Mestre nos braços veneráveis e carinhosos.
Maria escutava-lhe as confidências, num misto de reconhecimento e de ventura.
João continuava a expor-lhe os seus planos mais insignificantes. Levá-la-ia consigo, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava uma choupana, onde se pudessem abrigar; entretanto, um dos membros da família real de Adiabene, convertido ao amor do Cristo, lhe doara uma casinha pobre, ao sul de Éfeso, distando tres léguas aproximadamente da cidade. A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouco e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.

Maria aceitou alegremente.

Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio amigo da Natureza, em frente do oceano. Éfeso ficava pouco distante; porém, todas as adjacências se povoavam de novos núcleos de habitações alegres e modestas. A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembléias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros.

Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o Apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso. A notícia de que Maria desconsava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança  por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades.

Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de "Casa da Santíssima".

O fato tivera origem em certa ocasião, quando um miserável leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe osculou as mãoes, reconhecidamente murmurando:

-Senhora, sois a mãe de nosso Mestre e nossa Mãe Santíssima!

A tradição criou raízes em todos os espíritos. Quem não lhe devia o favor de uma palavra maternal nos momentos mais duros? E João consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos  da criatura. Na sua humildade sincera, Maria se esquivava às homenagens afetuosas dos discípulos de Jesus, mas aquela confiança filial com que lhe reclamavam a presença era para sua alma um brando e delicioso tesouro do caoração. O título de maternidade fazia vibrar em seu espírito os cânticos mais doces. Diariamente, acorriam os desamparados, suplicando sua assistência espiritual. Eram velhos trôpegos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a penção do seu carinho.

- Minha mãe - dizia um dos mais aflitos - , como poderia vencer minhas dificuldades? Sinto-me abandonado na estrada escura da vida...

Maria lhe enviava o olhar amoroso de sua bondade, deixando nele transparecer toda a dedicação enternecida de seu espírito maternal.

- Isso também passa! - dizia ela, carinhosamente - só o Reino de Deus é bastante forte para nunca passar de nossas almas, como eterna realização do amor celestial.

Seus conceitos abrandavam a dor dos mais desesperados, desanuviavam o pensamento obscuro dos mais acabrunhados.
  
(...continua)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

MARIA DE MAGDALA


Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino, não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres, em compainha de patrícios romanos, e tomara-se de admiração profunda pelo Messias.

Que novo amor era aquele apregoado aos pescadores singelos por lábios tão divinos? Até ali, caminhara ela sobre as rosas rubras do desejo, embriagando-se com o vinho de condenáveis alegrias. No entanto, seu coração estava sequioso e em desalento. Jovem e formosa, emancipara-se dos preconceitos férreos de sua raça; sua beleza lhe escravizara aos caprichos de mulher os mais ardentes admiradores; mas seu espírito tinha fome de amor. O Profeta nazareno havia plantado em sua alma novos pensamentos. Depois que lhe ouvira a palavra, observou que as facilidades da vida traziam agora um tédio mortal ao espírito sensível. As músicas voluptuosas não encontravam eco em seu íntimo, os enfeites romanos de sua habitação se tornaram áridos e tristes. Maria chorou longamente, embora não compreendesse ainda o que pleiteava o profeta desconhecido. Entretanto, seu convite amoroso parecia ressoar-lhe nas fibras mais sensíveis de mulher. Jesus chamava os homens para uma vida nova.

Decorrida uma noite de grandes meditações e antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungiria publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias, após muitas hesitações. Como a receberia o Senhor, na residência de Simão? Seus conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o abandono do lar e a vida de aventuras. Para todos, era ela a mulher perdida que teria de encontrar a lapidação na praça pública. Sua consciência, porém, lhe pedia que fosse. Jesus tratava a multidão com especial carinho. Jamais lhe observara qualquer expressão de desprezo para com as mulheres de vida equívoca que o cercavam. Além disso, sentia-se seduzida pela sua generosidade. Se possível, desejaria trabalhar na execução de suas idéias puras e redentoras. Propunha-se a amar, como Jesus amava, sentir com os seus sentimentos sublimes. Se necessário, saberia renunciar a tudo. Que lhe valiam as jóias, as flores raras, os banquetes suntuosos, se, ao fim de tudo isso, conservava a sua sede de amor?!...

Envolvida por esses pensamentos profundos, Maria de Magdala penetrou o umbral da humilde residência de Simão Pedro, onde Jesus parecia esperá-la, tal a bondade com que a recebeu num grande sorriso. A recém-chegada sentou-se com indefinível emoção a estrangular-lhe o peito.

. . .

Vencendo, porém, as suas mais fortes impressões, assim falou, em voz súplice, feitas as primeiras saudações:

- Senhor, ouvi a vossa palavra consoladora e venho ao vosso encontro!... Tendes a clarividência do Céu e podeis adivinhar como tenho vivido! Sou uma filha do pecado. Todos me condenam. Entretanto, Mestre, observei como tenho sede do verdadeiro amor!... Minha existência, como todos os prazeres, tem sido estéril e amargurada...

As primeiras lágrimas lhe borbulharam dos olhos, enquanto Jesus a contemplava, com bondade infinita. Ela, porém, continuou:

- Ouvi o vosso amoroso convite ao Evangelho! Desejava ser das vossas ovelhas, mas será que Deus me aceitaria?

O Profeta nazareno fitou-a, enternecido, sondando as profundezas de seu pensamento, e respondeu, bondoso:

- Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do Reino e Deus te abençoa as alegrias! Acaso, poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai? Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas; porém, as flores são as esperanças em Deus. Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênções paternais de Deus descem e chamam. Sentes hoje esse novo sol a iluminar-te o destino! Caminha agora, sob a sua luz, porque cobre a multidão de pecados.

A pecadora de Magdala escutava o Mestre, bebendo-lhe as palavras. Homem algum havia falado assim à sua alma incompreendida. Os mais levianos lhe pervertiam as boas inclinações, os aparentemente virtuosos a deprezavam sem piedade. Engolfada em pensamentos confortadores e ouvindo as referências de Jesus ao amor, Maria acentuou, levemente.

- No entanto, Senhor, tenho amado e tenho sede de amor!...

- Sim - retarguiu Jesus -, tua sede é real. O mundo viciou todas as fontes de redenção e é imprescindível compreenda que em suas sendas a virtude tem de marchar por uma porta muito estreita. Geralmente, um homem deseja ser bom como os outros, ou honesto como os demais, olvidando que o caminho onde todos passam é de fácil acesso e de marcha sem edificações. A virtude no mundo foi transformada na porta larga da conveniência própria. Há os que amam os que lhes pertencem ao círculo pessoal, os que são sinceros com os seus amigos, os que defendem seus familiares, os que adoram os deuses do favor. O que verdadeiramente ama, porém, conhece a renúncia suprema a todos os bens do mundo e vive feliz, na sua senda de trabalhos para o difícil acesso às luzes da redenção. O amor sincero não exige satisfações passageiras, que se extinguem no mundo com a primeira ilusão; trabalha sempre, sem amargura e sem ambição, com os júbilos do sacrifício. Só o amor que renuncia sabe caminhar para a vida suprema!...
Maria escutava, embevecida. Ansiosa por compreender inteiramente aqueles ensinos novos, interrogou atenciosamente:
- Só o amor pelo sacrifício poderá saciar a sede do coração?
Jesus teve um gesto afirmativo e continuou:
- Somente o sacrifício contém o divino mistério da vida. Viver bem é saber imolar-se. Acreditas que o mundo pudesse manter o equilíbrio próprio tão só com os caprichos antagônicos e por vezes criminosos dos que se elevam à galeria dos triunfadores? Toda luz humana vem do coração experiente e brando dos que foram sacrificados. Um guerreiro coberto de louros ergue os seus gritos de vitória sobre os cadáveres que juncam o chão; mas apenas os que tombaram fazem bastante silêncio, para que se ouça no mundo a mensagem de Deus. O primeiro pode fazer a experiência para um dia; os segundos constroem a estrada definitiva na eternidade.
Na tua condição de mulher, já pensaste no que seria o mundo sem as mães exterimadas no silêncio e no sacrifício? Não são elas as cultivadoras do jardim da vida, onde os homens travam a batalha?...
Muitas vezes, o campo enflorescido se cobre de lama e sangue; entretanto, na sua tarefa silenciosa, os corações maternais não desesperam e reedificam o jardim da vida, imitando a Providência Divina, que espalha sobre um cemitério os lírios perfumados de seu amor!...
Maria da Magdala, ouvindo aquelas advertências, começou a chorar, a sentir no mínimo o deserto da mulher sem filhos. Por fim, exclamou:
- Desgraçada de mim, Senhor, que não poderei ser mãe!...
Então, atraindo-a brandamente a si, o mestre acrescentou:
- E qual das mães será maior aos olhos de Deus? A que se devotou somente aos filhos de sua carne, ou a que se consagrou, pelo espírito, aos filhos das outras mães?
Aquela interrogação pareceu despertá-la para meditações mais profundas. Maria sentiu-se amparada por uma energia interior diferente, que até então desconhecera. A palavra de Jesus lhe honrava o espírito; convidava-a a ser mãe de seus irmãos em humanidade, aquinhoando-os com os bens supremos das mais elevadas virtudes da vida. Experimentando radiosa felicidade em seu mundo íntimo, contemplou o Messias com os olhos nevoados de lágrimas e, no êxtase de sua imensa alegria, murmurou comovidamente:
- Senhor, doravante renunciarei a todos os prazeres transitórios do mundo, para adquirir o amor celestial que me ensinastes!... Acolherei como filhas as minhas irmãs no sofrimento, procurarei os infortunados para aliviar-lhes as feridas do coração, estarei com os aleijados e leprosos...
Nesse instante, Simão Pedro passou pelo aposento, demandando ao interior, e a observou com certa estranheza. A convertida de Magdala lhe sentiu o olhar galcial, quase denotando desprezo, e, já receosa de um dia perder a convivência do Mestre, perguntou com interesse:
- Senhor, quando partirdes deste mundo, como ficaremos?
- Certamente que partirei, mas estaremos eternamente reunidos em espírito. Quanto ao futuro, com o infinito de suas perspectivas, é necessário que cada um tome sua cruz, em busca da porta estreita da redenção, colocando acima de tudo a fidelidade a Deus e, em segundo lugar, a perfeita confiança em si mesmo.
Observando que Maria, ainda opressa pelo olhar estranho de Simão Pedro, se preparava a regressar, o Mestre lhe sorriu com bondade e disse:
- Vai, Maria!... Sacrifica-te e ama sempre. Longo é o caminho, difícil a jornada, estreita a porta, mas a fé remove os obstáculos... Nada temas: é preciso crer somente!
. . .
Mais tarde, depois de sua gloriosa visão do Cristo ressuscitado, Maria de Magdala voltou de Jerusalém para a Galiléia, seguindo os passos dos companheiros queridos.
A mensagem da ressurreição espalhara uma alegria infinita.
Após algum tempo, quando os apóstolos e seguidores do Messias procuravam reviver o passado junto ao Tiberíades, os discípulos diretos do Senhor abandonaram a região, a serviço da Boa Nova. Ao disporem-se os dois últimos companheiros a partir em definitivo para Jerusalém, Maria de Magdala, temendo a solidão da saudade, rogou fervorosamente lhe permitissem acompanha-los à cidade dos profetas; ambos, no entanto, se negaram a anuir aos seus desejos. Temiam-lhe o pretérito de pecadora, não confiavam em seu coração de mulher. Maria compreendeu, mas lembrou-se do Mestre e resignou-se.
Humilde e Sozinha, resistiu a todas as propostas condenáveis que a solicitavam para uma nova queda de sentimentos. Sem recursos para viver, trabalhou pela própria manutenção, em Magdala e Dalmanuta. Foi forte nas horas mais ásperas, alegre nos sofrimentos mais escabrosos, fiel a Deus nos instantes escuros e pungentes. De vez em quando, ia às sinagogas, desejosa de cultivar a lição de Jesus; mas as aldeias da Galiléia estavam novamente subjugadas pela intransigência do Judaismo. Ela compreendeu que palmilhava agora o caminho estreito, onde ia só, com a sua confiança em Jesus. Por vezes, chorava de saudades, quando passeava no silêncio da praia, recordando a presença do Messias. As aves do lago, ao crepúsculo, vinham pousar, como outrora, nas alcaparreiras mais próximas; o horizonte oferecia, como sempre, o seu banquete de luz. Ela contemplava as ondas mansas e lhes confiava suas meditações.
Certo dia um grupo de leprosos veio a Dalmanuta. Procediam da Induméia aqueles infelizes, cansados e tristes, em supremo abandono. Perguntavam por Jesus Nazareno, mas todas as portas se lhes fechavam. Maria foi ter com eles e, sentindo-se isolada, com amplo direito de empregar a sua liberdade, reuniu-os sob as árvores da praia e lhes transmitiu as palavras de Jesus, enchendo-lhes os corações das claridades do Evangelho. As autoridades locais, entretanto, ordenaram a expulsão imediata dos enfermos. A grande convertida percebeu tamanha alegria no semblante dos infortunados, em face de suas fraternas revelações a respeito das promessas do Senhor, que se pôs em marcha para Jerusalém, na compainha deles. Todo o grupo passou a noite ao relento, mas sentia-se que os júbilos do Reino de Deus agora os dominavam. Todos se interessavam pelas discrições de Maria, devoravam-lhe as exortações, contagiados de sua alegria e de sua fé. Chegados à cidade, foram conduzidos ao vale dos leprosos, que ficava distante, onde Madalena penetrou com espontaneidade de coração. Seu espírito recodava as lições do Messias e uma coragem indefinível se assenhoreara de sua alma.
Dali em diante, todas as tardes, a mensageira do Evangelho reunia a turba de seus novos amigos e lhes dizia o eninamento de Jesus. Rostos ulcerados enchiam-se de alegria, olhos sombrios e tristes tocavam -se de nova luz. Maria lhes explicava que Jesus havia exemplificado o bem até à morte, ensinando que todos os seus discípulos deviam ter bom ânimo para vencer o mundo. Os agonizantes arrastavam-se até junto dela e lhe beijavam a túnica singela. A filha de Magdala, lembrando o amor de Mestre, tomava-os em seus braços fraternos e carinhosos.
Em breve tempo, sua epiderme apresentava igualmente, manchas violáceas e tristes. Ela compreendeu a sua situação e recordou a recomendação do Messias de que somente sabiam viver os que sabiam imolar-se. E experimentou grande gozo, por haver levado aos seus companheiros de dor uma migalha de esperança. Desde a sua chegada, em todo o vale se falava daquele Reino de Deus que a criatura devia edificar no próprio coração. Os moribundos esperavam a morte com um sorriso ditoso nos lábios, os que a lepra deformara ou abatera quardavam bom ânimo nas fibras mais sensíveis.
Sentindo-se ao termo de sua tarefa meritória Maria de Magdala desejou rever antigas afeições de seu círculo pessoal, que se encontravam e Éfeso. Lá estavam João e Maria, além de outros companheiros dos júbilos cristãos. Adivinhava que as suas últimas dores terrestres vinham muito próximas; então, deliberou pôr em prática seu humilde desejo.
Nas despedidas, seus companheiros de infortúnio material vinham suplicar-lhe os derradeiros conselhos e recordações. Envolvendo-os no seu carinho, a emissária do Evangelho lhes dizia apenas:
- Jesus deseja intensamente que nos amemos uns aos outros e que participemos de suas divinas esperanças, na mais extrema lealdade a Deus!...
Dentre aqueles doentes, os que ainda se equilibravam pelos caminhos lhe traziam o fruto das esmolas escassas e as crianças abandonadas vinham beijar-lhe as mãos.
Na fortaleza de sua fé, a ex-pecadora abandonou o vale, através das estradas ásperas, afastando-se de misérrimas choupanas. A peregrinação foi-lhe difícil e angustiosa. Para satisfazer aos seus intentos, recorreu à caridade, sofreu penosas humilhações, submeteu-se ao sacrifício. Observando as feridas pustulentas que substituiam sua antiga beleza, alegrva-se em reconhecer que seu espírito não tinha motivos para lamentações. Jesus a esperava e sua alma era fiel.
Realizada a sua espiração, por entre dificuldades infinitas, Maria achou-se, um dia, ás portas da cidade; mas invencível abatimento lhe dominava os centros de força física. No justo momento de suas efusões afetuosas, quando o carsario de Éfeso se lhe desdobrava à vista, seu corpo alquebrado negou-se a caminhar. Modesta família de cristãos do subúrbio recolheu-a a uma tenda humilde, caridosamente. Madalena pôde ainda rever amizades bem caras, consoante seus desejos. Entretanto, por lorgos dias de padecimentos debateu-se entre a vida e a morte.
Uma noite, atingiram o auge as profundas dores que sentia. Sua alma estava iluminada por brandas reminiscências e, não obstante seus olhos se acharem selados pelas pálpebras intumescidas, via com os olhos da imaginação o lago querido, os companheiros de fé, o Mestre bem-amado. Seu Espírito parecia transpor as fronteiras da eternidade rodiosa. De minuto a minuto, ouvia-se-lhe um gemido surdo, enquanto irmãos de crença lhe rodeavam o leito de dor, com preces sinceras de seus corações amigos e desvelados.
Em dado instante, observou-se que seu peito não mais arfava. Maria, no entanto, experimentava consoladora sensação de alívio. Sentia-se sob as árvores de Cafarnaum e esperava o Messias. As aves contavam nos ramos próximos e as ondas susurantes vinham beijar-lhe os pés. Foi quando viu Jesus aproximar-se, mais belo que nunca. Seu olhar tinha o reflexo do céu e o semblante trazia um júbilo indefinível. O Mestre estendeu-lhe as mãos e ela se prosternou, exclamando, como antigamente:
- Senhor!...
Jesus recolheu-a brandamente e murumurou:
- Maria, já passaste a porta estreita!... Amaste muito! Vem! Eu te erpero aqui!



sexta-feira, 21 de maio de 2010

MAIO


As comemorações terrestres muitas vezes têm no espaço o seu eco suave e doce. Os mortos frequentemente se reúnem aos vivos, nas suas lágrimas ou nas suas glorificações. Quando as luzes e os perfumes de Maio banham os dois hemisférios, onde se agita a cristandade, com suas várias famílias evangélicas, as preces da Terra misturam-se com as vibrações do Céu, em homenagem à Mãe do Salvador, no trono de sua virtude e de sua glória. Se o planeta da lágrima se povoa de orações e de flores, há roseiras estranhas florindo nas estradas prodigiosas do Paraíso, nos altares iluminados de outra natureza, e Maria, sob o dossel de suas graças divinas, sorri piedosamente para os deserdados do mundo e para os infelizes dos espaços, derramando sobre os seus corações as flores preciosas de sua consolação.

Na Terra, as suas bênçãos desabotoam a palma da esperança, no ânimo dos tristes e dos abatidos; no Além as vibrações do seu amor confortam o coração dos desesperados, entornando sobre eles o cântaro de mel de sua infinita misericórdia.

Foi assim que a voz de Jeziel, anjo mensageiro da sua piedade, nos acordou:

- "Hoje - desse-nos com a sua palavra de suave magnetismo -, o Paraíso abre suas portas douradas para receber todas as súplicas, vindas da Terra longínqua... Dos altares terrestres e dos corações que se desfazem nas ânsias cristãs, no planeta das sombras, eleva-se uma onda de amor, em volutas divinas e a Rosa de Nazaré estende aos sofredores o seu manto divino, constelado de todas as virtudes... Celina já partiu para as vastidões escuras do planeta das lágrimas, a fim de repartir as bênçãos carinhosas da Mãe de Jesus com todos aqueles que têm pago ao Céu os mais largos tributos, em prantos e rogativas, nos caminhos espinhosos das penas terrestres. Mas a Senhora dos Anjos não vos poderia esquecer e mandou-me anotar as solicitações dos vossos Espíritos, a fim de que as vossas esperanças alcançassem guarida no seu coração maternal."

E cada entidade expôs ao anjo piedoso de Maria as suas expectativas angustiosas. Antigos afortunados do mundo pediam para os seus descendentes na Terra o necessário esclarecimento espiritual; outros imploravam um bálsamo que lhes aliviasse o coração amargurado, ferido nos espinhos dos enganos terrestres. Não foram poucos os que lembraram seus antigos sonhos e suas paixões nefastas, sepultadas no planeta como negros resíduos de florestas incendiadas, suplicando da Rainha dos Anjos a esmola do conforto do seu amor. Posições convencionais, erros deploráveis e malignas ilusões foram amargamente recordados e, esperando a vez de enunciar o meu desejo, pus-me a analisar as aspirações mais sagradas do meu Espírito, depois de sutilmente arrebatado, pela morte, às suas atividades do mundo.
Assim como um estudioso de matemática pode dissecar todas as coisas físicas, compreendendo que a linha é uma reunião de pontos acumulados e que a superfície é a multiplicação dessas mesmas linhas, o Espírito desencarnado, na sua acuidade perceptiva, pode ser o geômetra de suas próprias emoções, operando a análise de si mesmo, autopsiando os fatos dos tempos idos, fazendo-os ressurgir, um a um, na sua milagrosa imaginação.

Lembrei, assim, a paisagem pobre e triste da minha aldeia natal. E vi novamente Miritiba (Cidade natal, hoje Humberto de Campos), com suas ruas arenosas e semidestruídas, guardando no litoral maranhense as antigas tradições dos guerrilheiros balaios, o lar humilde e farto da minha primeira infância, o gênio festivo de meu pai e a figura bondosa e severa de minha mãe... Em seguida, revi os quadros de amargura e orfandade, vividos na Parnaíba distante. E depois... era o meu veleiro, rudemente jogado no oceano largo, onde, com os remos de minha coragem, procurava enfrentar, inutilmente, a maré alta das lágrimas, até que um dia, desesperado na ilha de meus sofrimentos, e cansado de afrontar, como Ájax (Herói grego da guerra de Tróia, filho de Orfeu, rei da Lócrida, que desafiou os deuses e naufragou ao voltar a Tróia), a cólera dos deuses, submergi-me, involuntariamente, na grande noite, para despertar no outro lado da vida.

No espírito humano, existem abismos insondáveis de sombra e luz, de misérias obscuras e sublimes glorificações. Num minuto, pode o pensamento rememorar muitos séculos, com o seu cortejo maravilhoso de trevas miseráveis e de luminosas purificações.

Chegada a minha vez, supliquei ao anjo solícito:

"Jeziel, sobre a superfície da Terra longínqua e escura, onde quase todos os corações se perdem nos desfiladeiros do ateísmo, da impenitência e da impiedade, tenho os filhos bem-amados da minha carne e do meu Espírito; mas esses têm, diante do porvir, o banquete risonho da esperança e da mocidade; ensinei-os a buscar no mundo o contentamento sadio do trabalho, em afirmações de estudo e de perseverança, dentro das leis da consciência retilínea. Porém, numa nesga pequenina da Terra há um coração dilacerado, como o da Mãe de todas as mães terrestres, trespassando de divinas angústias, desde a Manjedoura até o Calvário... É para minha mãe que peço todas as tuas graças... A mão nobre e forte, que me conduziu à lição proveitosa da vida humana, acena-me do mundo, enregelada de saudade, ansiosa do beijo do filho que ela criou, com todos os sacrifícios do seu corpo e com todos os martírios do seu coração... É para ela, Jeziel, que desejo leves a bênção maternal da Rainha dos Céus, numa profusão de lírios de esperança santificadora... Dá ao seu Espírito valoroso, que nunca teve as suas ânsias de ventura realizadas no orbe do exílio, a vibração de paz de que gozam os redimidos nas dores ausentes e ignoradas... Todas as bênçãos de Maria sejam depostas na sua fronte, que os cabelos brancos aureolaram, numa epopéia de sacrifícios desconhecidos e de heroísmos santificantes... Despetala sobre o seu coração fervoroso e agradecido todas a flores que hoje desabrocham no Paraíso, e que, no obscuro recanto da Terra onde o seu Espírito aguarda o alvará da liberdade suprema, possa minha mãe sentir, nos seus olhos nublados de lágrimas, o orvalho das lágrimas do seu filho, redivivo e reconfortado na alegria e na esperança."

E assim que a alma piedosa de minha mãe, nas dores com que vai penetrando a antecâmara da imortalidade, recebeu, neste mês de Maio, o coração saudoso e amigo do seu filho.



  • Humberto de Campos




domingo, 9 de maio de 2010



MARIA DE NAZARÉ




"MÃE" DE TODOS E DE TODAS

domingo, 21 de março de 2010

O SERVO BOM

A condenação das riquezas se firmara no espírito dos discípulos, com profundas raizes, a tal ponto que, por varias vezes, foi Jesus obrigado a intervir de maneira a pôr termo a contendas injustificáveis. De vez em quando, Tadeu parecia querer impor aos assistentes das pregações do lago a entrega de todos os bens aos necessitados; Felipe não vacilava em afiançar que ninguém deveria possuir mais que uma camisa, constituindo uma obriagção tudo dividir com os infortunados, privando-se cada qual do dispensável à vida.

- E quando o pobre nos surge somente nas aparências? - replicava judiciosamente Levi. - Conheço homens que choram na coletoria de Cafarnaum, como miseráveis mendigos, apenas com o fim de se eximirem dos impostos. Sei de outros que estendem as mãos à caridade pública e são proprietários de terras dilatadas. Estaríamos edificando o Reino de Deus, se favorecêssemos a exploração.

- Tudo isso é verdade - retarguia Simão Pedro - Entretanto, Deus nos inspirará sempre, nos momentos oportunos, e não é por essa razão que deveremos abandonar os realmente desamparados.
Levi, porém, não se dava por vencido e retrucava:

- A necessidade sincera deve ser objeto incessante de nosso carinhoso interesse; mas em se tratando de falsos mendigos, é preciso considerar que a palavra de Deus nos tem vindo pelo Mestre, que nunca se cansa de nos aconselhar vigilância. É imprescindível não viciarmos o sentimento de piedade, a ponto de prejudicarmos os nossos irmãos no caminho da vida.

O antigo cobrador de impostos expunha, assim, a sua maneira de ver; mas Felipe, agarrando-se à letra dos ensinos, replicava com ênfase:

- Continuarei acreditando que é mais fácil a passagem de um camelo pelo fundo de uma agulha do que a entrada de um rico no Reino do Céu.

Jesus não participava dessas discussões, porém, sentia as dúvidas que pairavam no coração dos disípulos e, deixando-os entregues aos seus raciocínios próprios, aguardava oportunidade para um esclarecimento geral.
. . .
Passava-se o tempo e as pequenas controvércias continuavam acesas.

Chegara, porém, o dia em que o Mestre se ausentaria da Galiléia para a derradeira viagem à Jerusalém. A sua última ida a Jericó, antes do suplício, era aguardada com curiosidade imensa. Grandes multidões se apinhavam nas estradas.
Um publicano abastado, de nome Zaqueu, conhecia o renome do Messias e desejava vê-lo. Chefe prestigioso na sua cidade, homem rico e enérgico, Zaqueu era, porém, de pequena estatura, tanto assim que, buscando satisfazer ao seu vivo desejo, procurou acomodar-se sobre um sicômoro, levado pela anciosa expectativa com que esperava a passaagem de Jesus. Coração inundado de curiosidade e de sensações alegres, o chefe publicano, ao aproximar-se o Messias, adimirou-lhe o porte nobre e simples, sentindo-se magnetizado, verificou que o
Mestre estacionara a seu lado e lhe dizia com aceno íntimo:
- Zaqueu, desce dessa árvore, porque hoje necessito de tua hospitalidade e de tua companhia.
Sem que pudesse traduzir o que se passava em seu coração, o publicano de Jericó desceu de sua improvisada galeria, possuído de imenso júbilo. Abraçou-se a Jesus com prazer espontâneo e ordenou todas as providências para que o querido hóspede e sua comitiva fossem recebidos em casa com a maior alegria. O Mestre deu o braço ao publicano e escutava, atento, as suas observações mais insignificantes, com grande escândalo da maioria dos discípulos - "Não se tratava de um rico que devia ser condenado?" - perguntava Felipe a si próprio. E Simão Pedro refletia intimamente: - "Como justificar tudo isto, se Zaqueu é um homem do dinheiro e pacador perante a lei?".
A breves instantes, porém, toda a comitiva penetrava na residência do publicano, que não ocultava seu contentamento inexcedível. Jesus lhe conquistara as atenções, tocando-lhe as fibras mais íntimas do espírito, com a sua presença generosa. Tratava-se de um hóspede bem-amado, que lhe ficaria eternamente no coração.
Aproximava-se o crepúsculo, quando Zaqueu mandou oferecer uma leve refeição a todo o povo, em sinal de alegria, sentando-se com Jesus e os seu discípulos sob um vasto alpendre. A palestra versava sobre a nova doutrina e, sabendo que o Mestre não perdia ensejo de condenar as riquezas criminosas do mundo, o publicano esclarecia, com toda a sinceridade de sua alma:
- Senhor, é verdade que tenho sido observado como um homem de vida reprovável; mas, desde muitos anos, venho procurando empregar o dinheiro de modo que represente benefícios para todos os que me rodeiam na vida. Compreendendo que aqui em Jericó havia muitos pais de família sem trabalho, organizei múltiplos serviços de criação de animais e de cultivo permanente da terra . Até de Jerusalém, muitas famílias já vieram buscar, em seus trabalhos, o indispensável recurso à vida!...
- Abençoado seja o teu esforço! - replicou Jesus, cheio de bondade.
Zaqueu ganhou novas forças e murmurou:
- Os servos de minha casa nunca me encontram sem a sincera disposição de servi-los.
- Rigozijo-me contigo - exclamou o Messias - , porque todos nós somos servos do nosso pai.
O publicano, que tantas vezes fora injustamente acusado, experimentou grande satisfação. A palavra de Jesus era uma recompensa valiosa à sua consciência dedicada ao bem coletivo. Extasiado, levantou-se e, estendendo ao Cristo as mãos, exclamou alegremente:
- Senhor! Senhor! tão profunda é a minha alegria, que repartirei hoje, com todos os necessitados, a metade dos meus bens, e, se nalguma coisa tenho prejudicado a alguém, indenizá-lo-ei, quadruplicadamente !...
Jesus o abraçou com um formoso sorriso e respondeu:
- Bem-aventurado és tu que agora contemplas em tua casa a verdadeira salvação.
Alguns dos discípulos, notadamente Felipe e Simão, não conseguiam ocultar suas deduções desagradáveis. Mais ou menos aferrados ás leis judaicas e atentando somente no sentido literal das lições do Messias, estranhavam aquela afabilidade de Jesus, aprovando os atos de um rico do mundo, confessadamente publicano e pecador. E como o dono da casa se ausentasse da reunião por alguns minutos, a fim de providenciar sobre a vinda de seus filhos para conhecerem o Messias, Pedro e outros prorromperam numa chuva de pequeninas perguntas: Por que tamanha aprovação a um rico mesquinho? As riquezas não eram condenadas pelo Evangelho do Reino? Por que não se hospedarem numa casa humilde e, sim , naquela vivenda suntuosa, em contraposição aos ensinos da humildade? Poderia alguém servir a Deus a ao mundo de pecados?
O mestre deixou que cessassem as interrogações e esclareceu com generoza firmeza:
- Amigos, acreditais, porventura, que o Evangelho tenha vindo ao mundo para transformar todos os homens em miseráveis mendigos? Qual a esmola maior: a que socorre as necessidades de um dia ou a que adota providências para uma vida inteira? No mundo vivem os que entesouram na Terra e os que entesouram no Céu. Os primeiros escondem suas possibilidades no cofre da ambição e do egoismo e, por vezes, atiram moedas douradas ao faminto que passa, procurando livrar-se de sua presença; os segundos ligam suas existências a vidas numerosas, fazendo de seus servos e dos auxiliares de esforços a continuação de sua própria família. Estes últimos sabem empregar o sagrado depósito de Deus e são seus mordomos fiéis, à face do mundo.
Os apóstolos auviram-no, espantados. Felipe, desejoso de se justificar, depois da argumentação incisiva do Cristo, exclamou:
- Senhor, eu não compreendia bem, porque trazia o meu pensamento fixado nos pobres que a vossa bondade nos ensinou a amar.
- Entretanto, Felipe - elucidou o Mestre -, é necessário não nos perdermos nas viciações do sentimento. Nunca houviste falar numa terra pobre, numa árvore pobre, em animais desamparados? E acima de tudo, nesses quadros da natureza a que Zaqueu procura atender, não vês o homem, nosso irmão? Qual será o mais infeliz: o mendigo sem responsabilidade, a não ser a de sua própria manutenção, ou um pai carregado de filhinhos a lhe pedirem pão?
Como André o observasse, com grande brilho nos olhos, maravilhado com as suas explicações, o Mestre acentuou:
- Sim, amigos! ditosos os que repartirem os seus bens com os pobres; mas, bem-aventurados também os que consagrarem suas possibilidades aos movimentos da vida, cientes de que o mundo é um grande necessitado, e que sabem, assim, servir a Deus com as riquezas que lhes foram confiadas.
. . .
Em seguida, Zaqueu mandou servir uma grande mesa ao Senhor a os discípulos, onde Jesus partiu o pão, partilhando do contentamento geral. Impulsionado por um júbilo insopitável, o chefe publicano de Jericó apresentou seus filhos a Jesus e mandou que seus servos festejassem aquela noite memorável para o seu coração.
Nos terreiros amplos da casa, crianças e velhos felizes cantaram hinos de cariciosa ventura, enquanto jovens em grande número tocavam flautas, enchendo de harmonia o ambiente.
Foi então que Jesus, reunidos todos, contou a formosa parábola dos talentos, conforme a narrativa dos apóstolos, e foi também que, pousando enternecido e generoso olhar sobre a figura de Zaqueu, seus lábios divinos pronunciaram as imorredouras palavras: - "Bem-aventurado sejas tu, servo bom e fiel!".

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

2012 NÃO É O FIM

ALCIONE - O SOL DO SOL


O sistema solar gira em torno de Alcione, estrela central da constelação de Plêiades.

O Sol é a oitava estrela da constelação que leva 26.000 anos para completar uma órbita (translação) ao redor de Alcione(Precessão de Equinócios)

Alcione tem à sua volta um gigantesco anel, ou disco de radiação, em posição transversal ao plano das órbitas de seus sistemas, chamado Cinturão de Fótons.

Um fóton consiste na decomposição ou divisão do elétron, sendo a mais ínfima partícula de energia eletromagnética.

Desde 1972, o Sistema Solar vem entrando no cinturão de fótons e em 1998 a sua metade já estraá dentro dele.

A Terra começou a penetrá-lo em 1987 e esta gradativamente avançando até 2012.

Um novo campo de percepção está disponível para aqueles que aprenderem a ver as coisas de uma outra forma.

Cada um de nós tem um trabalho individual para desenvolver aliado ao trabalho de conscientização da humanidade.

Ter boas intenções é essencial, assim como estar em sintonia com Deus.

É tempo de conhecer e seguir o Mestre Jesus, nosso modêlo enviado pelo Pai.

Paz, Amor e Luz Divina

FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

Se procuras ensejo para realizar-te,
em matéria de paz e felicidade, age e serve sempre.

Emmanuel

FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO (ESE)