domingo, 8 de março de 2009

Controle do ensinamento espírita

Revista Espírita, janeiro de 1862

A organização que propusemos para a formação dos grupos espíritas tem por objetivo
preparar os caminhos que devem facilitar, entre eles, relações mútuas. Ao número de
vantagens que devem resultar dessas relações, é preciso colocar, em primeira linha, a
unidade da Doutrina, que lhe será a conseqüência natural. Essa unidade já está feita em
grande parte, e as bases fundamentais do Espiritismo hoje estão admitidas pela imensa
maioria dos adeptos; mas ainda há questões duvidosas, seja que não hajam sido
resolvidas, seja que hajam sido em sentido diferente pelos homens, e mesmo pelos
Espíritos.

Se os sistemas, algumas vezes, são o produto de cérebros humanos, sabe-se que certos
Espíritos não estão atrás nesse assunto; com efeito, vê-se que excitam com um
maravilhoso jeito, encadeiam com muita arte, idéias freqüentemente absurdas, e delas
fazem um conjunto mais engenhoso do que sólido, mas que poderia falsear a opinião de
pessoas que não se dão ao trabalho de aprofundar, ou que são incapazes de fazê-lo pela
insuficiência dos seus conhecimentos. Sem dúvida, as idéias falsas acabam por cair diante
da experiência e da inflexível lógica; mas, à espera disso, podem lançar a incerteza. Sabese
também que, segundo sua elevação, os Espíritos podem ter, sobre certos pontos, uma
maneira de ver mais ou menos justa; que as assinaturas que as comunicações levam nem
sempre são uma garantia de autenticidade, e que os Espíritos orgulhosos procuram, às
vezes, fazer passar utopias ao abrigo dos nomes respeitáveis com os quais se enfeitam.
Sem contradita, é uma das principais dificuldades da ciência prática, e contra a qual muitos
se chocaram.

O melhor critério, em caso de divergência, é a conformidade do ensino pelos diferentes
Espíritos, e transmitidos por médiuns completamente estranhos uns aos outros. Quando o
mesmo princípio for proclamado ou condenado pela maioria, será necessário render-se à
evidência. Se é um meio de se chegar à verdade, seguramente, é pela concordância tanto
quanto pela racionalidade das comunicações, ajudadas pelos meios que temos para
constatar a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos; cessando a opinião de ser
individual, por tornar-se coletiva, adquire um grau de mais autenticidade, uma vez que não
pode ser considerada como o resultado de uma influência pessoal ou local. Aqueles que
ainda estão incertos, terão uma base para fixar suas idéias, porque seria irracional pensar
que, aquele que está só, ou quase, em sua opinião, tem razão contra todos.

O que contribui sobretudo para o crédito da doutrina de O Livro dos Espíritos, é
precisamente porque, sendo o produto de um trabalho semelhante, acha ecos por toda a
parte; como dissemos, não é o produto de um único Espírito, que pudera ter sido
sistemático, nem de um único médium que pudera ter abusado, mas, ao contrário, o de um
ensinamento coletivo por uma grande diversidade de Espíritos e de médiuns, e que os
princípios que ele encerra são confirmados em quase toda parte.

Dissemos mais ou menos, tendo em vista que, pela razão que explicamos acima,
encontram-se Espíritos que procuram fazer prevalecer suas idéias pessoais. É, pois, útil
submeter as idéias divergentes ao controle que propusemos; se a doutrina, ou algumas das
doutrinas, que professamos, forem reconhecidas errôneas por uma voz unânime, submerternos-emos sem murmurar, felicitando-nos haja sido encontrada por outros; mas se, ao
contrário, elas são confirmadas, permitir-nos-á crer que estamos com a verdade.
A Sociedade Espírita de Paris, compreendendo toda a importância de semelhante trabalho,
e tendo primeiro que esclarecer a si mesma, e em seguida provar que não entende, de
nenhum modo, se pôr como árbitro absoluto das doutrinas que ela professa, submeterá,
aos diferentes grupos que se correspondem com ela, as perguntas que acreditar mais úteis
à propagação da verdade. Essas perguntas serão transmitidas, segundo as circunstâncias,
seja por correspondência particular, seja por intermédio da Revista Espírita. Concebe-se
que, para ela, e em razão da maneira séria com a qual encara o Espiritismo, a autoridade
das comunicações depende das condições nas quais se acham colocadas as reuniões,
segundo o caráter dos membros e dos objetivos a que ela se propõe; emanando as
comunicações de grupos formados sobre as bases indicadas pelo nosso artigo sobre a
organização do Espiritismo, terão tanto mais peso, aos seus olhos, quanto esses grupos
estiverem em melhores condições. Submetemos aos nossos correspondentes as questões
seguintes, à espera daquelas que lhes remeteremos ulteriormente.

Allan Kardec

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